Voluntários transformam vida de animais de rua

Com amor e solidariedade, grupo Cuidadores de Animais faz resgates e cuida das adoções.

Autora: Camilly Turetta*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o número de animais abandonados no Brasil já soma mais de 30 milhões. Estima-se que desse número, 20 milhões sejam cachorros e 10 milhões gatos. Entre os motivos que levam as pessoas abandonar seus pets estão as mudanças de moradia, falta de tempo ou agressividade, porém, consta na Lei n.º 9.605/98, Artigo 32 que é crime o abandono de animais e, o indivíduo que cometer essa prática, pode ter pena de 2 a 5 anos de prisão, multa e uma futura proibição da guarda de novos animais.

A veterinária Flavia Vitorino, atua na área há 13 anos e conta que é um pouco complicado lidar com os animais encontrados em situação de rua. Segundo ela, é mais difícil dar um diagnóstico, já aquele animal não possui um histórico, não se tem conhecimento do que aconteceu nos últimos dias, não sabe o que o animal come, como vive e há quanto tempo está naquela situação, só se tem o breve relato de quem o resgatou. “Vivendo na rua, os bichinhos estão expostos à diversas situações. Os que não são vacinados podem ficar doentes e, dependendo da doença, pode ser transmitida para o ser humano, sendo assim um problema de saúde pública”, explica Flavia.

O fato de estarem na rua pode os adoecer, e se tornarem transmissores de doenças como Leptospirose, que é uma zoonose. O excesso de carboidrato é um problema que também pode ocorrer, já que na rua são ofertados muitos alimentos diferentes para os animais, que não podem ser consumidos por eles. Comidas com temperos como alho e cebola, por exemplo, são tóxicos, podendo causar a anemia e até ser fatal, dependendo do estado do animal.

Flavia diz que os animais, além de estarem sujeitos a muitas doenças, podem sofrer maus-tratos e desenvolver um comportamento agressivo, mas enfatiza que a maioria é muito tranquila e dócil. Na cidade em que ela exerce sua profissão, havia um cachorro de rua que foi adotado por várias pessoas, mas ele sempre fugia da casa de quem o adotou. Ele gostava de viver na praça da cidade, todos o conheciam, faziam vaquinhas para levá-lo ao veterinário e ajudar no que podiam. O cão, foi “adotado” pela população e viveu muitos episódios engraçados na cidade, como o de ficar dentro do banco pelo ar-condicionado. O animal pelo ciclo da vida, faleceu, mas a população para homenageá-lo, quer criar o Instituto Zé Pereira, que era seu nome. O instituto cuidaria dos animais em situação de rua.

Em meio ao caos que os animais vivem nas ruas, em muitas cidades do país existem as Organizações Não Governamentais (ONGs) que fazem trabalhos voluntários de resgate e cuidados.

Os Cuidadores de Animais

No município de Boa Esperança, no interior do Espírito Santo, surgiu um grupo de voluntários com esse intuito, em 2014, os Cuidadores de Animais. O início se deu quando uma cadelinha chamada “Rajada” teve seus filhotes na rua. Diante da situação, um grupo de pessoas se comoveu com a história e decidiu, em conjunto, se unir para ajudá-la. Após o cenário vivido, diversas discussões e uma reunião, a equipe se organizou propriamente para cuidar de animais em situação de abandono. Rajada e seus filhotes foram os primeiros resgatados, marcando um o início de um serviço fundamental na vida dos animais de rua e uma longa trajetória de solidariedade. O grupo é formado por 9 integrantes.

Plinya Pereira, médica veterinária de 26 anos, é uma integrante do projeto e explica que a equipe atua mais diretamente na orientação dos resgates do que na execução, já que não possuem um abrigo. Quando um animal é identificado em situação de rua, geralmente pedem que os responsáveis entrem em contato com o grupo para realizar o resgate. Depois, procuram um lar temporário, onde são realizados os cuidados e as ações se concentram em arrecadar doações para tratamento dos animais resgatados.

Depois disso, o animal passa para o processo de adoção. O grupo, desde 2022, realizou um total de 6 campanhas de castração. Com esse movimento, ajudou mais de 600 animais, incluindo machos e fêmeas, com e sem tutores. Essa ação é vital para controlar a população de animais e diminuir os casos de abandono.

Ela conta que a maior dificuldade enfrentada pelo projeto é a falta de recursos. O grupo se mantém com doações e uma venda de alimentos no centro da cidade, que busca sempre arrecadar recursos para a causa. Dessa forma, comprando um produto, o indivíduo estará ajudando com a continuidade do projeto.

Outra dificuldade é a percepção de algumas pessoas sobre o trabalho realizado. Alguns presumem que o grupo é “obrigado” a resgatar todo e qualquer animal, incluindo aqueles que os tutores não querem mais cuidar, gerando situações de chantagem emocional.

Negão, é um cachorro que foi resgatado nas ruas de Boa Esperança, em 2021. A sobrevivência vinha do lixo, até ser salvo, e levado para tratamento. Depois de muitas sessões de banho terapêutico e um longo período de tratamento contra a sarna, os pelos voltaram a crescer. Mesmo sendo idoso, e tendo perdido alguns dentes, ele foi adotado e hoje vive num lar de muito amor. Negão se tornou o vigilante da rádio da cidade, adotado por José Rodrigues Gomes, conhecido como Zezito, apresentador e administrador no local.

Negão depois da recuperação. Foto: arquivo pessoal.

“Quando a rádio começou a funcionar em Boa Esperança, sabíamos que o local à noite iria ficar sem ninguém, então senti a necessidade de ter uma vida no quintal, ter com quem interagir. Lembrei de arranjar um cão para ser nosso companheiro” explica José. Ele procurou a ONG Cuidadores de Animais, que apresentou alguns filhotes, mas quando olhou para “Negão” foi amor à primeira vista.

Zezito conta que o colocaram no quintal e não houve nem período de adaptação, ele se acostumou rapidamente e está lá até hoje, apesar de já ser um ancião. Negão é muito amável, dócil e acompanha as pessoas até o portão para entrarem na rádio. “Todo mundo gosta dele, é um animal muito bom”.

*Me chamo Camilly, tenho 20 anos, sou do interior do Espírito Santo e sou estudante de Jornalismo, não porque eu quis, mas porque o curso me escolheu. Sempre me encantei por ler, escrever e contar histórias, dessa forma acredito que a comunicação sempre esteve presente na minha vida de forma espontânea e descomplicada.

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