Artista colombiana transforma vivências pessoais em música, explorando bachata, reggaeton e pop eletrônico, com colaborações de Ozuna, Karol G Rauw Alejandro, entre outros.
Autora: Carla Diniz*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Após a traição de seu ex-companheiro Gerard Piqué, que expôs a vida pessoal da colombiana nas manchetes, a cantora latino-americana Shakira encontrou na música uma forma de reconstruir sua identidade e lidar com as emoções intensas provocadas pela separação turbulenta. Com Las Mujeres ya no Lloran, ela transformou a dor em arte, oferecendo uma narrativa poderosa e crua sobre a libertação e o empoderamento feminino. Este álbum não é apenas um desabafo, mas uma ressignificação de tudo que se perde, e o que se encontra – e reencontra – no processo.
Ao longo de sua carreira, Shakira apresentou a cultura e a música latino-americana para o mundo. Combinando elementos de pop, rock, reggaeton e ritmos tradicionais como a cumbia, ela não apenas quebrou barreiras linguísticas, mas também se tornou um ícone que representa a diversidade da música latina para audiências ao redor do mundo.
O álbum
Las Mujeres Ya No Lloran foi lançado em 22 de março de 2024 pela Sony Music Latin. O álbum apresenta uma fusão de gêneros como reggaeton, afrobeat, bachata, pop latino, dance-pop e eletrônico, além de outras combinações de ritmos que mostram a versatilidade única da artista barranquillera. Com uma série de colaborações de peso, Shakira reuniu artistas influentes de diversos estilos, como Bizarrap, Rauw Alejandro, Ozuna, Karol G, Cardi B, Grupo Frontera, Manuel Turizo e Fuerza Regida.
O décimo álbum da carreira da colombiana contém um total de 16 faixas e apresenta quatro capas, cada uma representada por diferentes pedras preciosas, cada uma com seu significado específico: a esmeralda simboliza a confiança, o rubi representa a paixão, o zafiro reflete a vulnerabilidade e o diamante a força. Essas escolhas visuais apresentam os temas centrais presentes nas músicas.
A primeira música do álbum Las Mujeres Ya No Lloran é “Te Felicito”, lançada em março de 2022. Nela, Shakira expressa sua raiva em relação à traição, destacando na música a falsidade e a atuação forçada de seu ex-parceiro. O clipe tem uma estética robótica, que reflete a superficialidade da maneira que ele a trata. Na letra, ela também se questiona sobre não ter percebido a situação antes, como no trecho “Cómo es que he sido tan ciega y no podido ver”.
Especialistas afirmam que a dor da separação pode ser tão intensa quanto uma dor física, levando muitas pessoas a terem comportamentos semelhantes aos de abstinência. Com essa ideia, podemos compreender melhor o clipe da segunda música lançada do álbum, “Monotonía“, em parceria com Ozuna. No vídeo, Shakira aparece segurando seu próprio coração e com o peito vazio, mostrando a intensidade da dor e do vazio que sente.
No refrão da melancólica bachata, ela canta: “No fue culpa tuya, ni tampoco mía, fue culpa de la monotonía”. Aqui, a culpa pela traição é colocada na monotonia do relacionamento, tirando a responsabilidade de quem traiu. Essa abordagem da culpa é interessante porque mostra um padrão comum em relacionamentos complicados, especialmente com pessoas narcisistas – inclusive citado na letra. Elas costumam evitar assumir seus erros e colocam a culpa em fatores externos, como a “monotonia”. Isso pode deixar a pessoa traída confusa, fazendo-a sentir que é responsável de alguma forma pelo ato da traição, mesmo sem ter feito nada de errado.
Depois desses dois lançamentos, veio o mais ousado: a parceria com Bizarrap, que foi bombástica em termos de recepção e viralização. A música alcançou grande sucesso por conta do desabafo direto da cantora colombiana para o ex-jogador espanhol. A faixa recebeu muitos elogios por trazer uma mensagem de empoderamento e identificação para o público.

No entanto, também gerou debates sobre o tipo de empoderamento transmitido, especialmente ao mencionar e comparar outra mulher (a nova namorada do ex). Em uma parte da letra, Shakira se compara a uma Ferrari e um Rolex, enquanto sugere que a atual parceira do ex seria proporcional a um Twingo e um relógio Casio, destacando que ele teria a trocado por algo inferior. Isso gerou críticas, tanto pela comparação entre mulheres quanto pela associação das marcas com inferioridade.
Shakira, por sua vez, esclareceu nas redes sociais que a música não buscava refletir um discurso feminista, mas sim expressar sentimentos humanos genuínos, como raiva e frustração. Mesmo assim, a frase “Las mujeres ya no lloran, las mujeres facturan” ganhou força e foi vista como um símbolo de empoderamento e independência feminina.
“TQG” (Te Quedé Grande), uma parceria com a renomada cantora de reggaeton Karol G, conquistou o prêmio de Melhor Parceria no VMA 2023. A canção aborda a melhora pessoal depois de um relacionamento tóxico, combinando uma batida envolvente com um clipe de coreografia sensual.
Em maio de 2023, Shakira deixou definitivamente Barcelona, cidade onde viveu durante seu casamento. Para marcar o fim desse ciclo, lançou “Acróstico” uma música especial com seus filhos, Sasha e Milan, abordando temas sobre perdão e recomeços. A música se chama “Acróstico” justamente por esse motivo: cada verso inicia com as letras que formam os nomes de seus dois filhos. Após essa despedida da cidade catalã, veio “Copa Vacía”, uma colaboração com Manuel Turizo, que fala sobre a exaustão emocional de um relacionamento desgastado.
Nem só de relacionamento vive a música
Em seguida, Shakira explorou novas sonoridades com “El Jefe”, trazendo a influência da música mexicana ao lado do grupo Fuerza Regida. Essa faixa destaca elementos da cultura latino-americana e faz uma crítica social, marcando o retorno da Shakira com letras provocativas. A música aborda temas como a precariedade do trabalho e a ilusão da meritocracia, com versos como: “Se acumulan las facturas, ser pobre es una basura/ Mamá siempre me decía que estudiar todo asegura/ Estudié y nada pasó, maldita vida tan dura”.
Ela também expõe a dura realidade de quem trabalha incessantemente sem ter nenhum resultado, apenas alimentando o sistema opressor: “Qué ironía, qué locura, esto sí es una tortura / Te matas de sol a sol y no tienes ni una escritura.” Além da crítica social, a canção contém indiretas direcionadas ao ex-jogador Gerard Piqué e sua família. De acordo com notícias, Piqué teria deixado de pagar a babá dos filhos, mencionada no final do clipe: “Lili Melgar, é para você esta música, porque não pagaram sua indenização.’”.
Outras canções e o que vem por aí…
“Puntería” veio acompanhada do lançamento das demais faixas que completam o álbum, totalizando 16 músicas. Entre elas, “Cómo, Dónde y Cuándo” traz um toque do rock dos anos 90, lembrando a fase “meio roqueira” de Shakira. Já “Nassau” fala sobre um amor que ajudou a curar um coração partido, embalado por um afrobeat leve e suave.
Outras canções se destacam, como “Cohete”, uma colaboração com Rauw Alejandro, que mistura um eletrônico retrô com uma vibração alegre e descontraída. “La Fuerte” e “Un Tiempo Sin Verte” abordam o fim de um relacionamento, mas com uma visão mais madura e uma abordagem parecida. A faixa “(Entre Paréntesis)” com a colaboração do Grupo Frontera, outra parceria mexicana, brinca com a ideia de que algo não foi completamente encerrado, expressa na frase: “Te pusiste un punto final entre paréntesis”.
Para encerrar o ciclo, Shakira apresenta a “Última”, como o próprio nome diz a última música escrita para o álbum e para seu ex-companheiro. A canção tem uma mistura de perdão, saudade, recaída, aceitação e gratidão, apesar das dores vividas. Com uma melodia delicada ao som de piano, como em “Acróstico”, os versos dizem: “Antes que nada, te agradezco lo vivido./ Por favor, déjame hablar, no me interrumpas, te lo pido/ Lo que nos pasó ya pasó y no tuvo sentido / Y si estuviste confundido, ahora yo me siento igual.”
É um álbum que acompanha o processo de autodescoberta de Shakira. Ritmos autênticos que se entrelaçam com letras cheias de referências, fazendo os fãs viverem cada momento intenso ao seu lado, trazendo de volta suas várias facetas, evocando a nostalgia da Shakira de outros tempos e destacando sua genialidade como artista.
Com uma explosão de frustração, raiva, tristeza, aceitação e cura, Shakira entrega “Mujeres Ya No Lloran”, transbordando emoções. Para encerrar esse ciclo, além de anunciar sua turnê para 2025, Shakira se mantém atenta às tendências musicais e lançou, em outubro, “Soltera”, reafirmando a liberdade que já vimos em sucessos como “She Wolf”, “Loca”, “Rabiosa” e “Las de la Intuición”. A Loba está de volta!
*Meu nome é Carla Diniz, tenho 22 anos e sou de Bandeirantes-PR. Sou formada em Letras e estou me graduando em Jornalismo. Sou apaixonada por futebol, especialmente o feminino, por isso escolhi seguir na área da comunicação, na qual tenho a oportunidade de dar visibilidade à modalidade que tanto gosto e que merece todo reconhecimento da sociedade.