Boletim epidemiológico aponta, ainda, que os casos podem ser prevenidos com intervenções individuais e coletivas de diagnóstico, prevenção a transtornos mentais e ações de conscientização.
Autora: Darcy Larine*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
“Meu humor muda muito rápido, tem dias que bate aquela desesperança de não conseguir mais nada, de ver até onde eu cheguei e ter a sensação de que não consegui nada. Então, entro naquela negação de ficar me culpando, acho que a culpa é o que mais me atormenta hoje. Fico horas deitada pensando na vida, e quando estou nesses dias, evito ao máximo sair. Não sinto mais vontade de me arrumar, de curtir a vida”, relata Nathália Karla Oliveira, de 37 anos, que sofre com a depressão há 5. Entre os sintomas estão mudanças de humor, descontentamento, cansaço, sofrimento emocional, solidão e ansiedade.
Assim como Nathália, 15,5% das pessoas no mundo sofrem com a doença, o que vem preocupando a Organização Mundial da Saúde. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma realidade que registra cada vez mais casos, principalmente entre jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.
Nathália diz que não sabe lidar com as emoções negativas. Quando as crises acontecem ela fica irritada, introspectiva, e sempre procura se isolar. “Quando tenho crises, elas me afetam tanto psicologicamente, como fisicamente, é uma coisa que às vezes nem sei explicar”, lamenta. Apesar disso, com a ajuda de profissionais especializados e da sua família, ela tem conseguido buscar novos rumos.
É muito importante que, ao sentir qualquer sintoma, a pessoa busque auxílio especializado, pois ainda de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, o suicídio encontra-se entre as três principais causas de morte em indivíduos com idade entre 15 e 29 anos no mundo. O Brasil é um país com taxas crescentes, com o aumento de 43% nos casos registrados anualmente entre 2010 e 2019.
A psicóloga Elisângela Viana explica que não existem sinais claros, porque cada pessoa é um universo de possibilidades, mas que toda ideação, ameaça ou tentativa de suicídio deve ser considerada. A psicóloga ainda comenta sobre as crenças de que quem quer cometer suicídio não dá sinais. “As pessoas têm a ilusão de que quem quer fazer, não avisa. Avisa sim, e avisa o tempo todo, não necessariamente com frases claras, mas avisa”.
Entre os possíveis aspectos estão o isolamento social, perda de interesse por coisas que fazia, falar que quer dormir para sempre, dormir por semanas. “Esses são sinais mais clássicos, mas há outros mais sofisticados, o que requer avaliação profissional”, adiciona Elisângela.
Janaina Thayanne Nascimento, de 35 anos, foi diagnosticada com depressão e ansiedade quando tinha 27 anos e, desde então, conviver com a doença tem afetado sua vida familiar, financeira e seu trabalho, e pensar no futuro gera várias crises de ansiedade. “Já tive muitos pensamentos suicidas e, graças a Deus, quando isso aconteceu, tive o tratamento adequado com o psiquiatra a tempo”.
A prevenção do suicídio não se limita à rede de saúde, mas deve ir além dela, sendo necessária a existência de medidas em diversos âmbitos na sociedade, que poderão colaborar para a diminuição dos números. A prevenção deve ser também um movimento que leve em consideração os aspectos biológico, psicológico, político, social e cultural, no qual o indivíduo é considerado como um todo em sua complexidade.
Diversos fatores podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos que atrapalham esse processo, por isso, procurar informação é essencial.
Diferenciando tristeza e depressão
Para diferenciar tristeza de depressão, o psiquiatra Rodrigo Bernini diz que é importante prestar atenção na duração e intensidade de cada estado emocional. Ele ressalta que a tristeza é um sentimento natural diante de algum acontecimento doloroso ou estressante, que normalmente tem uma duração menor, e que ela não afeta a sua produtividade, ou seja, não te incapacita de realizar suas atividades cotidianas. Já no caso de um quadro depressivo, o especialista explica que pode durar meses ou anos, especialmente se não tiver um tratamento adequado. A depressão engloba vários sintomas, como humor deprimido, perda de prazer, alteração de sono, apetite, libido, perda ou ganho de peso, falta de energia, pensamentos negativos em relação à própria vida, entre outros.
O especialista enfatiza que existem algumas atividades que a pessoa pode fazer para melhorar a saúde mental, mas que, primeiramente, é indicado o acompanhamento médico de profissionais especializados, como psicólogos e, nos casos mais complexos, o tratamento psiquiátrico. “Outros recursos, tais como atividades artísticas, também podem funcionar como vias de expressão dos conteúdos emocionais. É preciso que a pessoa tenha mais tempo para momentos de lazer e prática de atividades prazerosas, de acordo com a própria subjetividade”.
Como buscar ajuda
Em casos de surtos, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tem equipes treinadas para acolher e fazer a intervenção, tanto no local, quanto levar à internação, nos casos necessários. O Centro de Valorização da Vida (CVV) presta apoio emocional e prevenção ao suicídio gratuitamente, pelo telefone 188, ou pelo site cvv.org.br. Também se pode procurar os serviços de saúde oferecidos em cada município. É importante, ainda, procurar acolhimento da família e amigos.

* Meu nome é Darcy Larine, tenho 28 anos, sou casada, e moro em Senador Canedo-GO. Eu prospero em desafios e constantemente estabeleço metas para mim mesma, sempre tendo algo pelo que me esforçar. Sou apaixonada pela comunicação, adoro ouvir e contar histórias.