Projeto Valentes de Cristo, em Nova Esperança-PR, nasce como superação da dependência química

O impacto gerado por meio do esporte na vida de meninos em situação de vulnerabilidade social é reconhecido na cidade.

Autora: Leonilda Cardoso*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

Aos 34 anos, César Irineu Padoan carrega um testemunho de vida que inspira. Ainda muito jovem trilhou o caminho da dependência química, sentindo no corpo e na alma as mazelas causadas pela mesma. Em 2017, com ajuda de um amigo que se solidarizou com essa realidade, viu a história mudar. Em uma expeiência espiritual, teve a vida transformada. Nasceu, então, o Projeto Valentes de Cristo, inicialmente uma forma de ocupar seu tempo de maneira saudável, que se tornou um canal de esperança para crianças e adolescentes de Nova Esperança-Pr.

Movido por esse impacto transformador em sua vida, César sentiu que precisava compartilhar com outros esse recomeço. Percebendo a necessidade que havia na periferia da cidade, uniu a experiência técnica no futebol, à vontade de servir e passou a reunir crianças e adolescentes para treinos a princípio apenas no futsal e hoje também no futebol de campo, desenvolvendo não apenas talentos, mas também espiritualidade.

Treino de futebol de campo. Foto: arquivo pessoal

Praticando a inclusão e descobrindo novos talento
O projeto acolhe participantes de 4 a 25 anos, com ou sem habilidade prévia. Muitos descobrem ali, no dia a dia, habilidades que não imaginavam ter. Entre os integrantes há alunos e ex-alunos da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), que também são assistidos e encontram ali um espaço de inclusão e superação.

“Testemunhamos de perto a diferença que o esporte pode fazer na vida de crianças e adolescentes que no dia a dia estão expostos às drogas e à falta de perspectivas” relata César. “Já recebemos adolescentes que hoje são jovens adultos, encaminhados no mercado de trabalho que expressam gratidão, isso gera um enorme senso de responsabilidade”.

Desafios e conquistas
Recentemente o Valentes de Cristo, por meio de locação, conquistou sua primeira sede própria, o local ainda precisa de adequações, mas, para eles, já é um grande avanço.

Entre os integrantes do treino de futsal está Henrique, hoje com 41 anos, aluno da APAE desde os 7 anos. Por ser apaixonado por futebol, foi indicado para participar dos treinos. “Foi muito especial ver a alegria dele no treino, foi homenageado por fazer 3 gols no primeiro treino que participou”, conta a mãe, Maria de Lourdes Turchetti Pelozzo. Contudo, a distância da casa em que residem até o local dos treinos e a necessidade de um acompanhante responsável, tem prejudicado a assiduidade de Henrique. Isso acontece com outros integrantes também.

Treino categoria de pessoas com deficiência mental e múltiplas. Foto: arquivo pessoal

Na modalidade futebol de campo, Guilherme Zambon de Paula, hoje com 9 anos, treina desde os 6. O pai, Weslen Jhonny Gustavo Roncoletta, destaca a importância do projeto na vida do filho. “Conheci o César através da Igreja em que participamos e vi a seriedade do Projeto. Vejo a disciplina proposta como algo relevante. O momento da concentração antes dos treinos onde acontece o apoio espiritual a esses meninos faz toda a diferença” conta Jhonny.

Os treinos formaram equipes que competem em campeonatos municipais e estaduais, trazendo visibilidade aos atletas e gerando oportunidades de testes em times maiores e participações em outros times locais. “Ainda não tivemos a felicidade de ver um deles ingressar como profissional do futebol em times grandes, mas estamos no caminho”, afirma César.

Além do esporte, o projeto oferece cursos, aula de música, ajuda social através de doações que recebem e apoio espiritual. “Sonhamos em fazer mais. Não temos apoio financeiro municipal, fazemos algumas promoções de venda de pizzas, feijoada etc. A comunidade tem grande participação nessas promoções, os pais ajudam como podem, buscamos parcerias, mas ainda não o suficiente para suprir todas as necessidades”, conta César.

Hoje, o Valentes de Cristo é reconhecido como uma iniciativa de impacto social na cidade de Nova Esperança, incentivando meninos, que através do futebol podem buscar um futuro diferente da realidade atual, vencendo preconceitos num ambiente de tanta desigualdade como são as periferias e mostrando a comunidade novaesperancense que o futebol vai muito além do campo. Existem histórias por trás de cada um dos integrantes, que podem ser mudadas por causa de alguém que vê além do desempenho em campo, as limitações impostas pela realidade que cada um deles vive.

*Sou Leonilda Cardoso, tenho 51 anos, casada, mãe de uma jovem de 22 anos e de um adolescente de 17 anos. Resido em Nova Esperança-PR. Voltei aos estudos após quase 30 da conclusão do Ensino Médio, realizando o sonho de cursar Jornalismo. Tenho paixão por contar histórias e acredito que o jornalista é porta-voz da comunidade em que vive, em busca da verdade e da justiça.

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