Opinião: Mídia tradicional dá pouco destaque ao futebol feminino

Apesar do crescimento do público, o futebol feminino ainda enfrenta a falta de cobertura qualificada nos veículos de comunicação tradicionais.

Autora: Carla Diniz*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

A Seleção Brasileira Feminina venceu os Estados Unidos em abril de 2025, depois de 10 anos sem conseguir esse feito. Foi uma vitória histórica, mas passou quase despercebida nos principais veículos de notícias. Marta, maior jogadora da nossa história, chamou atenção para isso: “Destacam mais quando perde, né?! Não vi nada nos sites de notícias”.

É um contraste forte se compararmos com as derrotas e eliminações. Um exemplo foi na Copa do Mundo de 2023, na qual a eliminação resultou em muitos comentários machistas de quem nem sequer acompanha a trajetória da modalidade. Quando o resultado é negativo, vira “manchete”, quando é positivo, quase não aparece. Nesse mesmo ano, o Brasil ainda venceu a atual campeã europeia, Inglaterra, fora de casa. Outro feito que recebeu pouca atenção, apesar de demonstrar a evolução da Seleção.

O problema não está apenas na quantidade de cobertura, mas no modo como ela é feita. Quando o futebol feminino chega aos grandes veículos, quase sempre aparece superficialmente ou em tom de “história de superação”. A pauta gira em torno da luta contra o preconceito, das dificuldades e da trajetória pessoal das atletas. Claro, isso tem importância histórica, afinal, o esporte foi proibido por lei no Brasil por 40 anos, mas reduzir a modalidade a isso é limitador. Fica a sensação de que o futebol de mulheres vale mais pela dor do que pela bola. Já análises táticas, escalações e debates técnicos quase não aparecem. Enquanto isso, um simples amistoso masculino rende horas de debate.

Esse vácuo que fica é preenchido pelas mídias independentes, como Dibradoras, Planeta Futebol Feminino, entre outros, que tratam os jogos com seriedade, falam de tática e analisam desempenho. Fazem o tipo de cobertura que a grande mídia deveria fazer.

A justificativa mais repetida é a de que “não tem público”. Mas o público aparece menos porque o produto é sabotado: falta investimento, divulgação e até o básico da transmissão. Um exemplo é o caso citado em reportagem do Le Monde Diplomatique Brasil, sobre o campeonato feminino em Alagoas, transmitido no YouTube da federação sem cronômetro e quase sem narração. Além disso, as últimas finais do Campeonato Paulista Feminino foram marcadas em horários incoerentes, o que praticamente inviabiliza o acompanhamento pelos torcedores e torcedoras. Com transmissões precárias e jogos em horários ruins, é muito difícil atrair audiência de forma sustentável.

Ainda assim, com todo descaso, os números vão pelo caminho contrário: quando o futebol feminino tem visibilidade, o público responde. O Mundial de 2019 bateu recordes de audiência na Globo. A final do Brasileirão de 2024 levou mais de 44 mil pessoas ao estádio. Os números só crescem: um estudo recente da Nielsen Sports aponta que o futebol feminino será um dos cinco esportes mais consumidos do mundo até 2030, com aumento de 38% no interesse global e mais patrocínios.

Algumas emissoras começam a se movimentar. A TV Brasil retomou, em 2025, a transmissão das Séries A1, A2 e A3 do Brasileirão Feminino e registrou crescimento de 23,8% na audiência em relação ao ano anterior. O alcance também subiu: de 2,1 milhões para 3 milhões de pessoas.

Mesmo assim, o espaço dado às mulheres na cobertura esportiva ainda é pequeno. Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, entre os profissionais do esporte que aparecem em reportagens, apenas 7% são mulheres, e esse número cai para 4% quando a mulher é o personagem principal das matérias.

Falta menos de três anos para o Brasil sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027. A mídia tradicional não pode esperar o evento chegar para “descobrir” a modalidade. A construção de ídolos, o debate sobre o jogo e a formação de público começam no cotidiano, e não apenas no mês do Mundial. Há passos positivos, como a possibilidade de tirar os jogos dos “terríveis horários de 10h da manhã” e levá-los para as tardes de sábado na TV Globo, mas isso ainda é apenas um primeiro movimento rumo a uma cobertura melhor. O futebol feminino já tem público, falta a mídia tradicional tratá-lo com respeito, não como um favor.

*Meu nome é Carla Diniz, sou paranaense e tenho 24 anos. Sou formada em Letras e, agora, estou realizando um grande sonho: cursar Jornalismo. Sou apaixonada por futebol, especialmente o feminino, e foi por isso que escolhi seguir na área da comunicação, para ter a oportunidade de dar visibilidade a essa modalidade que tanto amo e que merece mais reconhecimento da sociedade.

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