Lucinéia da Silva Oliveira, formada em Biblioteconomia, dedicou 39 anos à Biblioteca Pública de Bandeirantes, promovendo a leitura com eventos e projetos.
Autora: Carla Diniz*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu pelo menos 764 bibliotecas públicas, conforme dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), vinculado, na época, à Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. Nos últimos anos, bibliotecas e livrarias foram profundamente afetadas pelas novas tecnologias digitais, pela crise econômica do país e pela pandemia de Covid-19.
Neste contexto, conversamos com Lucinéia da Silva Oliveira, ex-bibliotecária, que compartilhou sua jornada profissional desde os primeiros passos como estudante de Magistério até sua longa carreira como bibliotecária na Prefeitura Municipal de Bandeirantes, no norte do Paraná, para mostrar a importância da leitura e da educação.
Lucinéia se formou no Magistério em 1974. Atraída pela novidade do curso de Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina, descobriu sua paixão profissional. Após a graduação, retornou à Bandeirantes e trabalhou por seis meses na Biblioteca da Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel, hoje conhecida como Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
Ela iniciou sua trajetória na Biblioteca Pública de Bandeirantes em 1980. Após 39 anos como bibliotecária municipal, mesmo aposentada, continua contribuindo como voluntária. Durante a conversa, ela abordou os desafios enfrentados ao longo dos anos, assim como as experiências gratificantes que marcaram sua trajetória nessa área, trazendo uma perspectiva sobre a leitura e o importante papel das bibliotecas.
Como foi o seu início na Biblioteca Municipal de Bandeirantes?
Em 1980, o prefeito José Fernandes da Silva me chamou e disse que gostaria de criar uma biblioteca pública em nossa cidade. Aceitei imediatamente. Lembro que o secretário da Educação me chamou e mostrou um monte de livros no chão, em um canto da sala, e me perguntou o que eu precisava para tirar aqueles livros do chão. Então, apresentei um projeto do que seria necessário e comecei a catalogar e classificar os livros, periódicos, etc. Trabalhei 39 anos como bibliotecária na Prefeitura Municipal de Bandeirantes, me aposentei, e hoje sou voluntária, para ajudar a classificar e catalogar os livros novos que são doados, pois para fazer esse serviço é necessário ser um profissional dessa área. Minha paixão eterna são os livros!
Durante os anos em que você atuou como bibliotecária, quais foram os maiores desafios que enfrentou em sua carreira? Além disso, como você enxerga o futuro da profissão na era digital, especialmente com a crescente presença de tecnologia e recursos on-line?
Sempre foi e sempre será a compra de livros, pois é um material que não aparece perante o trabalho do Executivo. Por exemplo, fazer uma calçada que todo mundo vê – o prefeito prefere fazer isso a investir em livros. Mas, graças a Deus, sempre participei de vários projetos em que ganhamos livros novos. Até mesmo enviavam listas de livros para que escolhêssemos os títulos novos que estávamos precisando para nosso acervo. Mais de 70% dos livros eram e são doados pela comunidade: livros que já leram ou que compraram para os filhos, que a escola exige, e depois fazem doação para a biblioteca. Em relação a tecnologia, mudou muito, mas ainda existe o curso de Biblioteconomia, que é uma profissão bem remunerada em grandes centros e que exige que sejam profissionais formados nessa área.
Você já trabalhou em projetos que promoveu a leitura. Como foram realizados esses projetos? Há algum específico que você gostou de desenvolver?
Sim, é a parte que mais gostei e gosto para incentivar o gosto pela leitura. A feira do livro, fiz várias na praça do SAAE, nos bairros, nas escolas e centros infantis, no auditório “Takiko Hassegawa” da Praça Brasil-Japão e dentro da Biblioteca Pública. Confeccionamos uma caixa de televisão antiga, que era quadrada, para nossa contação de histórias. Recortamos a frente da caixa, colocamos dois rolos e colamos TNT. Em seguida, xerocamos as histórias em páginas e pintamos com lápis de cor para chamar a atenção das crianças, em vez de simplesmente imprimir e colar as histórias. Assim, íamos rolando conforme contávamos a história. O Sesc (Serviço Social do Comércio) trazia teatro infantil com personagens e venda de livros, cuja porcentagem das vendas era revertida para adquirirmos livros para a biblioteca. Presenteávamos as crianças com um livrinho de histórias. Era um orgulho para elas levar de presente e, para nós, um incentivo à leitura.
Incentivar a leitura em crianças e adolescentes é fundamental para seu desenvolvimento cultural. Que estratégias práticas você recomendaria para professores e pais que desejam estimular o hábito da leitura nessa faixa etária?
Sim, os pais e professores têm a obrigação de despertar o gosto pela leitura. Podem fazer isso trocando brinquedos, tempo na internet e pontos positivos nas matérias, especialmente em Português. Por exemplo: “Eu lhe dou isso se você ler pelo menos 10 páginas do livro tal.” Dessa forma, a criança vai lembrar que já leu aquela palavrinha, adquirindo um vocabulário rico. Não é só viajar através dos contos, fábulas e histórias, mas também poder interagir sobre diversos assuntos com a família e amigos. Os pais devem levá-los para visitar a biblioteca, e ao adquirir uma carteirinha de leitor, eles ficam se sentindo super importantes e felizes. Os professores podem agendar visitas à biblioteca, e nós, como profissionais, podemos falar sobre o quanto a leitura é importante para o nosso dia a dia.
Como um professor pode influenciar positivamente o hábito de leitura dos seus alunos?
No nosso tempo, um professor de português do terceirão tratava seus alunos como adultos. Ele estava sempre atualizado na lista de livros das faculdades para o vestibular. Pesquisava o que havia na biblioteca e nos sugeria o que precisávamos providenciar, trabalhando o ano todo com esses livros junto aos alunos. Tínhamos fila de espera para ler, pois não adiantava ir na internet e copiar e colar, já que ele conhecia todos os detalhes dos textos, incluindo as vírgulas. Era bem sério, e com isso despertou o hábito de leitura nos seus alunos, que se tornaram leitores assíduos. Agora, temos um grupo fiel de leitores na terceira idade. Às vezes, devido ao trabalho, eles pararam de ler, mas agora, aposentados, voltaram.
A leitura pode ter um impacto transformador na vida de uma pessoa. Você conhece alguma história em que a leitura mudou o contexto de uma pessoa? Isso pode incluir mudanças na carreira, mudanças de opinião…
Tem várias conquistas de leitores da biblioteca. O que é mais gratificante é que eram pessoas que não tinham condições financeiras nenhuma, foram conquistadas através de pesquisas e muita leitura. Sem me superestimar, mas ajudei muito. Vou destacar três: o primeiro é promotor, o segundo é auditor da Receita Federal e o terceiro é Policial Militar do Paraná. Se for contar, foram vários. Participei de várias formaturas de Faculdade, inclusive, teve uma em que fui homenageada.
Quais tipos de livros as pessoas costumavam procurar com mais frequência na biblioteca? Houve algum gênero ou autor específico que era particularmente popular?
Dentro da literatura infantil e juvenil os autores são: Monteiro Lobato, Maria Clara Machado e Ruth Rocha. Na literatura brasileira: José de Alencar, Machado de Assis, Clarice Lispector, Paulo Coelho, Dalton Trevisan, José Lins do Rêgo, Érico Veríssimo. Na literatura estrangeira, Sidney Sheldon e Danielle Steel ganham destaque.
Você tem um livro ou autor favorito?
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. É um clássico que atravessou e continua a atravessar várias gerações. Fala de temas como amizade, amor, sabedoria e a inocência de uma criança.
Como você descreveria o sentimento de ter exercido a função de bibliotecária? Pode definir a profissão com uma frase ou uma palavra?
Amar a nossa profissão, pois tudo se torna mais leve.

*Meu nome é Carla Diniz, tenho 22 anos e sou de Bandeirantes-PR. Sou formada em Letras e estou me graduando em Jornalismo. Sou apaixonada por futebol, especialmente o feminino, por isso escolhi seguir na área da comunicação, na qual tenho a oportunidade de dar visibilidade à modalidade que tanto gosto e que merece todo reconhecimento da sociedade.
Muito orgulho da Néia da Biblioteca ❤️