No bairro Canabrava, jovens transformam vivência em arte, colocando a comunidade no centro da narrativa em produções para o Youtube.
Autor: Valter Moreira*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Luz, câmera e resistência. É assim que podemos definir a produção audiovisual baseada no cotidiano da comunidade periférica Canabrava, em Salvador-BA, que mistura som e imagem para contar histórias, anseios e o desfecho algumas vezes brutal da juventude inserida no crime na capital baiana.
A websérie Face de Favela é um projeto audiovisual marcante que emerge da juventude da comunidade. É um exemplo de como o audiovisual contemporâneo está sendo reconfigurado e utilizado como uma ferramenta poderosa para retratar a realidade social e as tensões vividas nas comunidades.
Criação, propósito e local da produção
A websérie nasceu da iniciativa do jovem Denilson, 22 anos, que atua como cantor, ator, compositor, diretor, roteirista e fotógrafo amador. O projeto usa a linguagem audiovisual para mostrar, por meio da ficção, parte da realidade de homens inseridos no tráfico de drogas na Bahia.
A narrativa baseia-se no cotidiano da periferia baiana e busca retratar, de forma simbólica e artística, os anseios e o desfecho brutal da criminalidade. O ambiente de gravação é o espaço natural de convívio dos moradores que atuam na série, com idades entre 18 e 40 anos.
Estilo e imersão na realidade periférica
A série mergulha no coração da favela para apresentar uma narrativa autêntica e emocionante sobre a vida na comunidade. O projeto é caracterizado como uma imersão no universo da juventude periférica baiana. Essa imersão se dá pelo ofício do ator exercido em seu lugar e pela utilização do corpo para contar a história.
A moradora de Canabrava, Tássia Laís, 26 anos, diz que a linguagem utilizada pelos jovens do Face de Favela é muito descontraída. Ela acredita que a série mistura dramas e muitas gargalhadas. “É bom ver esses jovens fazendo arte e trazendo cultura pro bairro, que é esquecido pelo Estado”, diz.
Produção e desafios
Face de Favela foi desenvolvida de forma colaborativa, aproveitando os talentos dos próprios moradores locais. “A ideia de criar a série surgiu do desejo de mudar a forma como a favela é retratada na mídia. Cansados de ver a comunidade de Canabrava associada apenas à violência e à falta de oportunidades, eu e a turma decidimos mostrar o outro lado: o lado da cultura, da solidariedade e da potência criativa dos meus crias”, conta Denilson, idealizador do projeto.
Apesar da autenticidade da narrativa, a produção da websérie enfrenta sérios desafios em sua pré-produção, produção e pós-produção, incluindo desafios financeiros, falta de patrocínio e uso de poucos recursos técnicos, não tendo câmera, iluminação e áudio profissionais.
Porém, Denilson acredita que isso acabou se tornando um incentivo a mais pra continuar. “Com o celular na mão e a vontade de fazer arte, transformamos a ausência desses recursos em combustível para a criação da série”.
Ao lançar Face de Favela nas mídias digitais, ele tem o objetivo de mostrar rostos, histórias e tensões vividas na comunidade. É um projeto que dialoga com todas as favelas de Salvador. O projeto, além de revelar talentos, fortalece a autoestima coletiva e reafirma que da comunidade de Canabrava também nascem arte, inovação e esperança.

*Olá, meu nome é Valter Moreira, tenho 33 anos e moro no bairro Canabrava, em Salvador-BA. Sou pai de dois filhos, Davi de 8 anos e Ruan de 2 anos. Estou construindo minha trajetória com tempo, dedicação e muita vontade de aprender. O amor pelo jornalismo, começou com o Coletivo Mocoró, um projeto audiovisual que realizei com meu amigo e professor Luciano Carcará, em que registrava o campeonato amador da comunidade e postava no Youtube e Facebook.
