Jovens descobrem novos mundos e formas de viver, trazendo para casa experiências ricas que fortalecem currículo e vida pessoal.
Autora: Leonilda Cardoso*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, meados do século XIX, visando a convivência pacífica entre os povos, surgiu a ideia de que se desse aos jovens a oportunidade de estudar em outros países, que não o seu de nascimento, experimentando novas culturas e desenvolvendo outro idioma.
Essa oportunidade, porém, era acessível apenas a filhos de pais ricos, que tinham condições financeiras de bancar do próprio bolso todos os custos para essa experiência.
Com o decorrer dos anos e a regulamentação de agências de intercâmbio, a viabilização de projetos de entidades estudantis, como universidades, institutos, escolas de idiomas, passou a ser acessível a jovens de classe média e baixa, a oportunidade de usufruir dessa experiência. O avanço da globalização trouxe consigo a necessidade de entender e falar outro idioma, estabelecendo então o inglês como língua franca. Porém, o espanhol, francês, alemão, japonês, também são procurados como segunda ou terceira opção de conhecimento de idiomas, para aprimorar conhecimento, fluência no idioma e agregar conhecimento profissionais. Como a melhor forma de se aprender algo é na prática, no caso do idioma é falando!
Afim de suprir a necessidade surgiu gradativamente oportunidades de um aprendizado intensivo através de programas de intercâmbio, anteriormente mais voltado ao público de ensino superior, depois ensino médio e hoje já temos programas como o Ganhando o Mundo do Governo do Paraná que abrange alunos também que estão finalizando o fundamental. Existem também outros voltados as pessoas com mais de 50 anos.
Segundo a Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta), que realiza pesquisas anuais sobre o tema, para o ano de 2025 ou seguintes, 21% dos entrevistados demonstraram interesse em participar de algum modelo de intercâmbio. De acordo com o site Eurodicas a busca por oportunidades de intercâmbio na Europa é crescente em 2025.
As experiências adquiridas ao participar de um intercâmbio abrem um leque de oportunidades, valorização no currículo, com vivências que agregam conhecimentos não somente de idioma, mas, também cultural, pessoal, podendo influenciar até mesmo na formação profissional.
Incentivando sonhos e buscando conhecimentos
Em entrevista com a professora Angélica Tomiello, responsável pelas relações internacionais do IFPR (Instituto Federal do Paraná) Campus de Paranavaí-PR ela diz que a experiência de um intercâmbio é muito importante, e que esse tem sido um dos objetivos da instituição através de editais próprios do IFPR, de convênios com Universidades internacionais, de editais de empresas, embaixadas de governos. “Recentemente através da embaixada do Japão, tivemos acesso a uma oportunidade de intercâmbio para nossos alunos”, disse a professora.
Uma das alunas do Campus Paranavaí foi selecionada e irá para Instituto Politécnico de Bragança, em Portugal, por meio do edital próprio do IFPR em parceria com o Instituto de lá. Outra aluna do terceiro de Mecatrônica Integrado ao Ensino médio, irá ainda esse ano para um Intercâmbio no Egito pelo AFS Intercultural Brasil, não por edital próprio, mas com apoio fornecido pelo Campus de Paranavaí, segundo ela.
“Por esse motivo está sendo desenvolvida uma normativa, uma resolução para organizar todas as demandas referentes a essa problemática”, diz Tomiello. Isso possibilita editais direcionados aos cursos técnicos integrados ao ensino médio, o que ela considera de grande importância para agregar conhecimento, desenvolver o idioma e adquirir experiência de vida. “Os alunos voltam com outra visão de mundo, com outra perspectiva ao sair da nossa bolha”. Ela acrescenta que a experiência no conhecimento de outras culturas, amplia a visão não apenas do mundo lá fora, mas também valoriza a que temos em nosso país.
A troca de conhecimento que acontece não é apenas de idiomas e culturas, mas, de aprendizagem no conceito acadêmico também, através de determinada área temática que fazem pesquisa e acessam conhecimento em outras esferas! “Para um aluno de ensino médio isso é muito importante”, afirma ela.
O interesse entre os adolescentes e jovens por intercâmbios tem crescido nos últimos anos, segundo ela, devido ao aumento de acesso a informações sobre o assunto, até mesmo nas redes sociais. Alunos do Curso de Técnico em mecatrônica e Técnico em Informática integrado ao ensino médio, são os que mais buscam oportunidade, destacando-se entre eles, alunos que participam de cursos CELIF (Centro de Línguas do IFPR), oferecido pelo campus. Existe um interesse maior por parte daqueles que já tem uma familiaridade com outro idioma, pelo fato de se sentirem mais seguros em participar, “O que não é regra”, afirmou ela. “Há um tempo atrás tivemos um edital de intercâmbio pelo governo espanhol, para uma imersão no idioma com duração de um mês e que não exigia ter conhecimento algum da língua espanhola, qualquer aluno poderia participar”, lembra a professora.
Destaca sobre como a instituição valoriza o acesso a oportunidades de intercâmbio, salienta que é feito uma sondagem de interesses, entre os alunos, visando aqueles que já tem o desejo de participar de intercâmbios. Dando acolhimento e apoio, nas burocracias que permeiam a seleção para editais de intercâmbio, realização de inscrição e preparo pós seleção. Oferecendo assessoria com professores na área de línguas. Aos alunos do Campus em geral, há um atendimento humanizado, voltado ao desenvolvimento do potencial de cada indivíduo, através de projetos, pesquisas que podem ser o passaporte para um intercâmbio.

Voluntariado com experiência Multicultural e Idiomas
A GBA Ships, Organização Internacional Cristã sem fins lucrativos, com sede na Alemanha, opera dois navios oceânicos, o Doulos Hope e Logos Hope com a ajuda de voluntários de mais de 60 países diferentes a bordo, trabalhando para manutenção e funcionamento dos navios. Já estiveram em mais de 150 países e territórios levando ajuda na saúde, educação, na infraestrutura de locais necessitados, deixando um pouco de esperança e amor em cada porto onde atraca.
Há uma biblioteca a bordo que é aberta ao público, através de acordos entre porto, governo e navio, levando literatura que normalmente essas pessoas não teriam acesso. A comunidade também recebe ajuda em reformas, pinturas de prédios, limpeza de praias, construção de casas, distribuição de alimentos, de acordo com a necessidade apresentada pela população, trabalhos esses desenvolvidos pelos voluntários que estão a bordo do navio.
Israel Silva, 23 anos esteve por dois anos e meio a bordo do Logos Hope como voluntário, desde que concluiu o ensino médio já tinha como objetivo vivenciar um intercâmbio ou voluntariado, algo que o ajudasse a ter um norte sobre o caminho a seguir e através da sua mãe que conhecera a anos atrás o navio, quando atracado em terras brasileiras, teve curiosidade sobre o navio, se inscreveu e foi viver a experiência.
A vivência no navio com pessoas de diferentes lugares do mundo junto com a oportunidade de visitar vários países, trouxe a ele uma imersão multicultural. Tendo em consideração que o idioma usado a bordo é o inglês, a experiência deu a Israel fluência no idioma. “A convivência multicultural me trouxe a compreensão do que é o legado cultural de um povo”, diz Israel. O crescimento pessoal no período é muito rápido e as mudanças são notáveis, no caso do Israel a timidez era um problema, que foi vencido no navio, quando esteve palestrando para cerca de 400 pessoas. Seu objetivo profissional mudou drasticamente de Designer Gráfico para Administração, “veio o senso de propósito, fazer um curso universitário com uma razão”, disse ele.
Para Nicholas Peres Mincoff, 19 anos, “a oportunidade surgiu no momento em que estava ingressando num curso universitário que não tinha certeza se era o que queria”, afirma ele. Quanto ao inglês embora tivesse anos de curso do idioma, tornou-se fluente a bordo, teve um certo conhecimento do espanhol e arriscou-se no alemão. “Já no aspecto de conhecimento cultural foi uma virada de chave na minha vida, quanto a aceitação de pessoas que pensam diferente, que se alimentam diferente, que vivem de um modo diferente do meu, o que era uma dificuldade para mim”, disse ele.
No caso do Nicholas não houve mudança no curso universitário escolhido. “Embora não tenha sido muito empolgante a conquista da vaga a princípio, até encarei como uma fuga a ida para o navio”, disse ele! Mas, voltou com outro olhar sobre a importância do curso, encontrou vínculos entre ele e a escolha feita. “Como cristão tive uma visão de contentamento para com a vida, pude ver a alegria em pessoas com tão pouco para sobreviver, em contraste com a minha realidade e muitas vezes reclamava, com tanto a agradecer se comparado a essas pessoas”, salienta ele.

Do sonho a uma nova profissão
Rebeka Delfino de Souza, 22 anos, afirma que sempre teve a curiosidade de conhecer o mundo, em ser imigrante mesmo! Filha de pais que não possuem condições financeiras de bancar esse sonho, aos 16 anos ganhou uma bolsa de estudos para um curso de inglês e começou a se empolgar com a possibilidade de buscar meios para um intercâmbio, a princípio, para o inglês mesmo, o velho “sonho americano”, pesquisando sobre intercâmbios nos Estados Unidos. O custo, porém, era inacessível para sua realidade.
Começou a trabalhar e juntar um dinheiro, teve conhecimento então, do programa Au pair para Europa, programa onde o(a) jovem reside na casa de uma família anfitriã, tendo moradia, alimentação, curso do idioma e uma mesada, para ser a cuidadora da(s) criança(s) da família por meio período e estudando no outro meio período. Com incentivo de familiares residentes na Alemanha, começou um curso on line de alemão, para se inscrever no programa, sabendo que haveria a oportunidade de permanecer no país para estudar após o intercâmbio. Já com o diploma de A1 em alemão embarcou em junho de 2022 com seu primeiro contrato de Au pair.
“Foi uma experiência bem controversa, a família anfitriã não cumpriu o requisito de pagar um curso do idioma, como rege o contrato e junto com as dificuldades de adaptação, vi meu sonho ruir em 90 dias, sendo despedida justamente pela dificuldade de me comunicar”, conta ela.
Com a chance de encontrar outra família num determinado período e assim permanecer no programa, graças a ajuda dos familiares, ela conseguiu fazer esse processo indo residir em Berlim, com a segunda família anfitriã. “Lá pude cursar o idioma e então tudo parecia caminhar bem até que veio as agressões verbais, restrição de alimentos por parte da mãe das crianças, e tudo complicou novamente”, relembra Rebeka. Graças a amizades conquistadas através da igreja da localidade em que morava, num bairro de Berlim, foi amparada por essas pessoas, saindo da segunda família, antes que terminasse o contrato.
“Já com o conhecimento de que poderia aplicar o visto para um programa de voluntariado na área da saúde, e assim permanecer no país por mais um ano, tive o privilégio de ser aceita por uma rede hospitalar que ofereceu alojamento e uma mesada, sendo auxiliar no atendimento de enfermagem no hospital enquanto seguia meus estudos do idioma em busca de proficiência, já certa de que seria na área da saúde que seguiria meus estudos” conta.
O voluntariado trouxe as mudanças que precisava para que seguisse em frente. “Fiquei fluente no idioma, me desenvolvi como pessoa, aprendi a tomar decisões e resolver problemas burocráticos, a Alemanha é demasiadamente burocrática”, disse ela. Foi através desse voluntariado prestado em uma rede hospitalar no interior da Alemanha que surgiu a oportunidade de cursar enfermagem, sendo recomendada ao curso pelos responsáveis do voluntariado.
Lembra que não é por que sua experiência não foi boa como au pair, que desaconselha a participação, conheceu nesse trajeto pessoas que viveram ótimas experiências, que criaram vínculos duradouros com as famílias anfitriãs.
“Não dá para romantizar, existe a saudade da família, o idioma que não é a língua materna, no caso da Alemanha os meses difíceis de inverno, com pouquíssimo sol, como também há o poder de compras, viagens, segurança, educação, precisei ponderar e decidir quando veio a oportunidade de continuar por aqui”, afirma ela. Para quem sonha em fazer um intercâmbio, não importa de quanto tempo ou qual deles: “…só vai, preparado você nunca vai estar, eu recomendo”.
Vídeo com breve resumo Au Pair e voluntariado da Rebeka.
Um curto período e um grande aprendizado
Para João Paulo Martinelli Basso, 32 anos, empresário num empreendimento da família no segmento de confecções e calçados, na Cidade de Nova Esperança-PR, o desejo de fazer um intercâmbio visando a prática de um segundo idioma, no caso o inglês, já o acompanhava antes de chegar ao nível universitário, pois, cresceu ouvindo dessa importância.
Apenas no curso universitário veio a oportunidade, através da AIESEC (Associação Internacional de Estudantes de Economia e Ciências Comerciais), organização presente em mais de 110 países e com escritórios em várias regiões brasileiras, inclusive em Maringá, na UEM (Universidade Estadual de Maringá), onde estudava.
Entre seus amigos, participaram de intercâmbios, um na Ucrânia e o outro na Argentina, pela mesma instituição. “Me chamou a atenção a oportunidade de participar de um projeto de voluntariado numa ONG que desenvolvia trabalho com pessoas cadeirantes, em Istambul na Turquia, tanto pela proximidade com a Europa, como por ser um país que também tem o futebol como o esporte mais popular, algo que gosto muito e com um custo acessível, pela duração de 30 dias” diz ele.
Um tanto curioso o fato de que só depois de estar certo a ida para Turquia, é que se deu conta que o idioma de lá é turco, porém, no projeto que participou havia jovens de diferentes países e o idioma falado entre eles era o inglês, então em duas semanas já estava “destravado” o idioma.
“Busquei viver a experiência visando apenas o desenvolvimento do idioma, mas ganhei grande aprendizado de vida. Cresci como pessoa, aprendi a tomar decisões, me cuidar, ser responsável por mim”, conta João. A convivência com várias culturas, pois, nesse projeto conheceu jovens alemães, canadenses, indonésios, marroquinos, indianos, americanos, paquistaneses e turcos, foi um diferencial para ele. “A experiência de conviver com mulçumanos e conhecer sobre a religião, foi uma quebra de tabu a respeito do assunto para mim”.
Hoje, vê no seu dia a dia como foi importante o crescimento e amadurecimento, a segurança que veio pós intercâmbio, por isso, é incentivador de que se viva uma experiência assim, ressaltando os cuidados em buscar algo que se encaixa com o objetivo que procura, tanto no idioma, como ao projeto social que por acaso vá participar e o país. “Graças a quantidade de informações que temos acesso, tem como filtrar bem, para evitar decepções e problemas por incompatibilidade de objetivos”, disse ele.

* Sou Leonilda Cardoso, tenho 51 anos, casada, mãe de uma jovem de 22 anos e um adolescente de 17 anos. Resido em Nova Esperança-PR. Voltei aos estudos após quase 30 de conclusão do Ensino Médio, realizando o sonho de cursar Jornalismo.
Que matéria linda, recheida de informações e vida, vida de.pessoas que sairam da zona de conforto e cairam no mundo, pra aprender e agregar valores. Esta de parabéns !!!!!
Obrigado!!!