Guerras impactam diretamente o bolso do consumidor no Brasil

O economista Gabriel Mendes explica por que os conflitos afetam população de outros países.

Autora: Maria Vital*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

Segundo o Conselho das Relações Exteriores, no final de 2023, havia cinco conflitos ativos entre países, desde confrontos internos até confrontos externos entre Estados, como por exemplo, a guerra entre Rússia e Ucrânia que perdura até hoje.

O Relatório Anual do FMI lançado em 2023 aborda a instabilidade da economia mundial devido ao conflito. “Aliado a níveis elevados de inflação, o investimento de carteiras continua sujeito a condições de mercado desafiadoras e alta volatilidade”.

Gráfico comparativo do PIB (Produto Interno Bruto) da Ucrânia de 15 de maio de 2019 a 12 de abril de 2024.
Fonte: Investing.

Os conflitos armados podem impactar um país em vários pontos, e um exemplo claro é a economia, que reflete em todo o desenvolvimento, afetando relações com outras nações e, principalmente, o dia a dia de sua população. Em entrevista, o economista Gabriel Mendes explica sobre a instabilidade da economia durante uma guerra.

Revista Vozes: Segundo Ahmed El Khatib, professor e coordenador do Instituto de Finanças FECAP, as guerras que ocorrem pelo mundo afetam a economia brasileira. Por que os conflitos podem influenciar na economia de um país mesmo não sendo participante direto do conflito?

Gabriel Mendes: Nós vivemos em um mundo cada vez mais globalizado e o nível de dependência dos países tem aumentado com o passar dos anos. As nações têm entre si relações comerciais e, de modo geral, os países mais desenvolvidos tendem a buscar sua produção naquilo que elas têm mais eficiência, enquanto buscam comprar o restante das mercadorias em outras nações. Por conta disso, as guerras sempre, independentemente de onde elas acontecem, podem influenciar na economia de um país, o que muda é o quanto esse conflito afeta aquela economia, ou seja, a intensidade do dano. E dentre as formas em que isso ocorre, posso citar a interrupção internacional, o aumento de preço dos produtos e a instabilidade financeira do mercado internacional ou até mesmo o impacto no sentimento que esses conflitos provocam nos consumidores e nas empresas. Falando da questão do comércio nacional, os países que estão em conflitos podem ter a sua logística de transporte danificada e isso impacta na economia de outras nações que não estão envolvidos no conflito, mas que tem relações comerciais com os envolvidos, obrigando que esses países busquem outras rotas comerciais ou fazendo com que o preço dos produtos encareça. Além desse aumento de preço, muitos países em conflitos são responsáveis pelo grande comércio de determinado tipo de produto. Vou citar o exemplo do conflito da Rússia e Ucrânia. A Rússia é uma grande fornecedora de petróleo e gás natural para países da Europa, por exemplo. Já a Ucrânia é uma fornecedora de trigo, e de certa forma, esse conflito aumentou o preço desses produtos, mesmo que países como o Brasil não comprem a mercadoria direto deles, os preços aumentam no mundo inteiro, então, de qualquer forma, o Brasil pagaria mais caro ao comprar esses produtos.

Segundo a CNN Brasil, com a Guerra na Ucrânia, vários países sofreram com a alta do petróleo, as commodities brasileiras, por exemplo, aumentaram 18,8%. Após o furor deste conflito e a ocorrência de outros, ainda há riscos das commodities aumentarem?

Esse valor depende de como os países vão reagir diante disto. Neste caso, o que acontece é que a demanda se manteve e a oferta desses produtos foi reduzida. O que pode acontecer, é que outros países aumentem sua produção e compensem essa perda de produção dos países que estão em conflito, mas isso depende das relações, do posicionamento dessas outras nações.

A educação financeira seria uma opção viável para a população estar inteirada sobre os conflitos mundiais e como eles impactam a economia de seu país?

A questão da educação financeira em si ajuda as pessoas a terem mais consciência e entenderem dos processos econômicos, mas não é somente a educação financeira que é importante nesse sentido. O importante é que as pessoas, de modo geral, tenham consciência e saibam o que ocorre no mundo e como elas são afetadas, fazendo com que isso ajude-as a ter o maior preparo e adaptação às mudanças econômicas. Dessa forma, a população tendo mais consciência com relação a isso, elas podem pressionar melhor seus políticos para que eles tomem decisões certas e atuem de modo a amenizar os impactos causados pelos conflitos mundiais.

Problemas comuns como o desemprego e a inflação podem ter como causa conflitos mundiais?

Sim, a inflação no geral influencia no aumento do custo dos produtos de importação, na interrupção da cadeia de suprimentos e distribuição desses produtos. O desemprego pode aumentar em função das empresas enfrentarem dificuldades econômicas por conta da redução do comércio e com isso elas podem reduzir essa operação ou mesmo fechar. Outro ponto é que isso impacta no sentimento tanto os consumidores quanto das empresas, visualizando a situação do conflito as empresas estariam menos dispostas a investir, aumentar sua produção e os consumidores também poderiam estar menos dispostos a consumir, gerando uma desaceleração econômica.

Durantes as guerras, alguns países sofrem sansões. O que acontece com a importação e exportação de produtos durante os conflitos?

As nações envolvidas no conflito reduzem a produção ou deixam de produzir para concentrar nos esforços de guerra. Também existem situações que os países aumentam a produção de determinado produto para ter mais capital e usar para desenvolver suas indústrias e ter mais armamentos, mas varia de acordo com cada situação. Isso afeta outros países, uma vez que teve variação e a diminuição na demanda de determinado produto, fazendo com que o país tenha que buscar alternativas, por exemplo, comprar de outras nações que não estão relacionados com aquele conflito e manter seu abastecimento. Já o preço, invariavelmente acaba subindo, pelo menos no primeiro momento. Com relação às sansões, normalmente, os países em conflitos sofrem sansões de outras nações, por exemplo, negar negociações. Mas nem sempre um país pode deixar de comprar do outro e acaba sendo impactado por essas penalidades.

Fazer compras em microempresas ajuda a equilibrar os preços e a economia durante a guerra?

Depende do produto, porque o preço é uma variação internacional, então aumentará de qualquer forma. Mas se esse produto tiver opções de substituição ou a produção de mercado interno, ao direcionar para mercados locais pode haver uma acessibilidade melhor em relação aos valores. Mas existem produtos que exigiriam grandes compras e estocagens para estabilizar o preço.

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