País é uma grande potência no futebol feminino e atrai muitas jovens atletas para as ligas universitárias.
Autora: Carla Diniz*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Os Estados Unidos são um dos países mais exitosos no cenário esportivo, algo que é possível constatar pelo quadro de medalhas das Olimpíadas, no qual lideraram em 18 edições do evento. Mais especificamente no futebol feminino, o país coleciona títulos. A seleção principal conquistou 4 mundiais (1991,1999, 2015 e 2019) em 8 edições, sendo a maior campeã. Essa hegemonia se dá por causa do desenvolvimento realizado, unindo educação e esporte e incentivando e apoiando os alunos e alunas a se tornarem atletas de alto nível.
Várias universidades estadunidenses oferecem bolsas de estudos que ajudam as jogadoras a conciliarem o futebol com os estudos e dão oportunidades nas ligas universitárias para talentos de outros países. Por isso, muitas atletas brasileiras veem no EUA um caminho para se profissionalizar dentro do esporte visto que, no Brasil, apesar da evolução significativa, com a criação de competições profissionais e de categorias de base, ainda não se oferece uma boa estrutura e oportunidades para as meninas que almejam ser jogadoras profissionais.
Luiza Sá, jornalista esportiva do UOL, aponta como um dos principais motivos o fato do futebol feminino ainda ter pagamentos muito mais baixos em comparação ao masculino, por isso muitas atletas começam a pensar em alternativas. A opção norte-americana se destaca ao oportunizar que as atletas conciliem o futebol com os estudos. “Acredito que muitas atletas brasileiras procuram um futuro nos Estados Unidos porque lá elas têm a possibilidade de unir não só um futebol muito mais desenvolvido e com possibilidades, mas também a parte educacional. Jogadoras da seleção brasileira como a Rafaelle, por exemplo, foram para lá e conseguiram uma formação que contribui para o futuro delas.”
Nesse contexto, Júlia Herbst, jogadora de Bandeirantes, no norte do Paraná, iniciou sua jornada em terras estadunidenses. Na Iowa Central Community College Women ‘s Soccer, a jovem foi um dos destaques da equipe. Depois disso, se transferiu para a Universidade de William Carey, onde conseguiu uma bolsa de 100%.
Desde muito cedo já jogava futebol com meninos nas ruas e competições e, aos 13 anos, saiu de casa em busca de oportunidades dentro do futebol. A partir de então acumulou passagens em equipes como Franca (São Paulo), Vasco da Gama (Rio de Janeiro), Cresspom (Brasília) e uma breve passagem em um time da Dinamarca, que despertou nela a vontade de novos desafios dentro da modalidade.

Para Júlia, sempre foi muito difícil estudar e jogar futebol ao mesmo tempo no Brasil. “Sempre ganhava alguma bolsa de estudo para fazer faculdade, mas quando eu mudava de time, não tinha a mesma faculdade ou era muito difícil conciliar os estudos, então foi bem interessante pra mim essa questão das universidades aqui nos EUA. Oferecem uma bolsa de estudos para você jogar para eles”, diz. Para se mudar para o país, ela contou com uma amiga que já estava lá e a incentivou e ajudou na preparação dos documentos, que foram enviados para algumas universidades, e em todo o processo para conseguir a bolsa.
A adaptação em outro país é sempre um desafio para a maioria das pessoas. Júlia destaca esse período de adaptação: “Quando cheguei aqui eu não falava inglês. No primeiro ano tinha muitos brasileiros, então quase não praticava o inglês e foi mais difícil. Já no meu segundo ano, eles se mudaram e tive que praticar e aí foi mais fácil [a adaptação]”.
As competições acontecem de setembro a dezembro. Esse se torna um período muito intenso em que os atletas precisam estudar, treinar e viajar. “Tem que estar muito focado, é bastante treino, muitas viagens, então tem que ter muita determinação para se manter”.
As ligas universitárias são divididas em NCAA (National Collegiate Athletic Association), a NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics) e a NJCAA (National Junior College Athletic Association). A NJCAA é a liga universitária mais recomendada para os estrangeiros, já que além de oferecer uma preparação de 2 anos, não exige a fluência do atleta no idioma.

As norte-americanas são conhecidas pelo seu jogo mais físico, o que passa muito pela formação dessas atletas, que iniciam a preparação desde muito jovens nas escolas. “Eles focam mais em corridas, academia, tentando trazer também um jogo coletivo de equipe, mas sempre focando no físico, e foi algo que me agregou bastante como atleta”, diz Júlia. A paranaense ainda faz uma comparação com o estilo de jogo brasileiro. “É bem diferente, porque no Brasil é muito mais habilidade, o drible, as jogadoras brasileiras têm mais recursos, mas aqui eles preparam desde muito cedo as atletas e por isso são uma potência. Eu diria que eles não têm as melhores jogadoras, mas tem jogadoras mais preparadas para qualquer circunstância de jogo”.
Luiza Sá destaca que os Estados Unidos investem no futebol feminino desde a base, algo que não ocorre no Brasil. “Uma atleta que se forma desde cedo nesse sistema pode ter mais facilidade de absorver conceitos que, no Brasil, acabam sendo apreendidos mais tarde”, afirma.
Além do futebol e dos estudos, ir para outro país proporciona muitos intercâmbios, já que as bolsas são oferecidas para atletas de muitas nacionalidades e que compartilham do mesmo sonho. Júlia Herbst conta que conheceu muitas pessoas da América do Sul e Europa, que estão no país buscando a oportunidade de serem vistas.
O futebol feminino vem crescendo nos últimos anos, quebrando recordes de público nos estádios e tendo mais investimentos no Brasil e no mundo. A atleta paranaense reconhece essa evolução e torce para que a modalidade continue se desenvolvendo. Dentro desse contexto, projeta seu futuro dentro da carreira esportiva: “Ainda não decidi se eu quero continuar no futebol. Algumas pessoas já entraram em contato comigo, mas se eu decidir continuar a jogar, quero ir para Europa, para lugares aonde ainda não fui”, finalizou.
*Meu nome é Carla Diniz, tenho 22 anos e sou de Bandeirantes-PR. Sou formada em Letras e estou me graduando em Jornalismo. Sou apaixonada por futebol, especialmente o feminino, por isso escolhi seguir na área da comunicação, na qual tenho a oportunidade de dar visibilidade à modalidade que tanto gosto e que merece todo reconhecimento da sociedade.