Ensino de Libras nas escolas transforma convivência e promove inclusão

A presença da Língua Brasileira de Sinais nas salas de aula fortalece o diálogo entre surdos e ouvintes.

Autora: Giovana de Oliveira*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

A Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida oficialmente em 2002, pela Lei nº 10.436. Muitas escolas não possuem professores capacitados, faltam intérpretes e, mesmo sendo reconhecida como língua oficial, a Libras ainda é tratada como uma disciplina opcional.

O aprendizado da Libras promove inclusão social, respeito às diferenças, estimula a empatia e facilita a comunicação entre surdos e ouvintes, dentro e fora das escolas.

Jean, de 26 anos, possui surdez total no ouvido direito e escuta parcialmente com o esquerdo. Ele conta que enfrentou muitos desafios em relação à comunicação e interação com colegas e professores. “Minha comunicação era complicada, fui levado à fonoaudióloga para eu aprender a oralizar, mas não gosto, não entendo o som da minha voz e não sei se falo alto ou baixo. Prefiro sinalizar”, conta.

Para Jean, a infância também foi um período de dificuldades. Na escola, não havia recursos suficientes e nem intérprete para auxiliá-lo. Só aprendeu a língua completamente no nono ano e se formou no Ensino Médio somente aos 21. Antes da aprendizagem, ele se comunicava com gestos criados em casa, para facilitar a interação com a família.

Suellen Costa, 28 anos, é professora de Libras na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Ela destaca a importância da língua de sinais no ambiente escolar. “Aprender Libras é essencial, porque sem ela não há comunicação com os surdos. Desde que comecei a estudar, percebo a importância em todas as áreas da minha rotina”.

Mas não é só em ambiente escolar que as pessoas precisam ter acessibilidade. Em hospitais, mercados, lojas, farmácias e outros locaos, seria necessário ter alguém para ajudar as pessoas surdas, o que tornaria a rotina dessas pessoas menos complicada e desafiadora. Para Suellen, as pessoas têm o hábito de pensar que aprender libras serve somente para quem convive com pessoas com deficiência auditiva, mas isso é relevante para todo mundo. Ela conta que costuma perguntar a quem trabalha com atendimento ao público o que eles fariam se um surdo pedisse ajuda. “Nem todo surdo sabe ler e escrever, e nem todos fazem leitura labial”, alerta.

Escolas públicas no Paraná, Pernambuco e São Paulo já incluem Libras como disciplina regular. Além disso, alguns municípios, como Diadema (SP), Vitória da Conquista (BA), Niteroí (RJ) e Nova Iguaçu (RJ) criaram clubes de Libras, oficinas culturais ou feiras bilíngues, aproximando alunos, famílias e comunidade.

Apesar dos avanços, essa ainda não é a realidade em todo o país. Jean, que mora no interior do Rio de Janeiro, relata que existem muitos problemas para encontrar intérpretes e professores capacitados. Para ele, Libras deveria ser uma disciplina obrigatória.

O fiscal de caixa de um supermercado, que preferiu não ser identificado, atende pessoas surdas no local de trabalho, contudo, não tem formação suficiente para essa tarefa e não conta com um profissional da área para auxiliá-lo. “Eu sei apenas os sinais básicos: crédito, débito, dinheiro, cartão – mas seria essencial ter ao menos uma pessoa que pudesse ajudar esses clientes.”

Ainda existe muita desinformação sobre a surdez. Muitas pessoas acreditam que é “apenas uma escolha”, já que o aparelho auditivo ou cirurgia poderia simplesmente resolver a questão, porém, não é tão simples conseguir acesso a isso, e nem todos os casos que são resolvidos com aparelho. Um estudo feito pelo Instituto Locomotiva mostra que mais de 10 milhões de pessoas no Brasil têm algum grau de surdez, sendo 2,3 milhões com grau severo. Ainda assim, 87% das pessoas com deficiência auditiva não usam aparelhos auditivos.

O ensino de Libras nas escolas é, portanto, uma das ferramentas mais eficazes para garantir comunicação, inclusão e respeito. Mais do que uma disciplina, é uma forma de transformar a convivência e fortalecer o direito de todos à educação. “Se fosse ensinada nas escolas, poderíamos nos comunicar melhor com todos. Comunicação real, como o inglês. Você pode muito bem encontrar um surdo em qualquer local na rua, mais fácil do que encontrar um gringo”, reflete Jean.

*Olá, me chamo Giovana, tenho 23 anos, e decidi fazer jornalismo desde os meus 16 anos. Sempre amei também os animais e veterinária foi uma opção, mas após fazer um curso de auxiliar de veterinária, percebi que minha vocação mesmo era o jornalismo. Pretendo focar na parte de esportes. Além de fazer a faculdade também trabalho fora, e o fato da faculdade ser a distancia é algo que facilita esse meu sonho, sem ter que parar de trabalhar. Confesso que é difícil conciliar as duas coisas, pois exige muita disciplina, e após dois anos nessa luta de conseguir me organizar, finalmente, nesse terceiro ano estou conseguindo fazer essas atividades extras que a faculdade proporciona, como a Revista Vozes.

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