População idosa está voltando a trabalhar por diversos fatores, entre eles, questões financeiras e de saúde mental.
Autor: Luiz Eduardo Biajotto*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
O senhor Luiz Antônio, 72, trabalhou até se aposentar. Na época, a aposentadoria poderia ser concedida por tempo de contribuição.
Hoje, já não é possível se aposentar nessa condição, pois para o contribuinte conseguir os benefícios, os requisitos mudaram. Segundo as novas regras do INSS, o homem tem que ter no mínimo 35 anos de contribuição e 67 anos de idade, e a mulher tem que ter no mínimo 30 anos de contribuição e 62 anos. Assim, terão o direito receber o salário mínimo vigente na época da concessão da aposentadoria.
É o caso do senhor Luiz Antônio, há 15 anos aposentado. Contudo, ele continua no mercado de trabalho, pois o que recebe não é suficiente para suas necessidades básicas. Também não gosta de ficar parado, como já tentou, mas não conseguiu, pois a falta do que fazer e a mudança brusca da sua rotina o deixou estressado e angustiado.
O primeiro motivo que fez o senhor Luiz Antônio voltar ao mercado de trabalho foi para complementar a renda, já que sua aposentadoria, mesmo sendo um pouco mais do que o salário mínimo, com o passar do tempo perdeu valor e ficou defasada. O segundo motivo foi psicológico, já que como ele trabalhou durante boa parte de sua vida, essa foi uma quebra brusca de rotina. De início, ele descansou merecidamente, mas com o passar do tempo, começou a se preocupar com as contas, já que o que recebia dava apenas para pagar as despesas e o orçamento ficava apertado. Então, resolveu voltar ao mercado no mesmo ramo em que atuou por 40 anos: o setor automobilístico.

Existem duas concessionárias de veículos da cidade que têm o hábito de contratar para seu quadro de funcionários pessoas com 60 anos ou mais, locais que o Luiz Antônio já trabalhou após voltar ao mercado de trabalho. Em uma das empresas, além dele havia outras três pessoas com 60 anos ou mais. Na outra, mais duas pessoas.
Segundo Victor Leonardo de Araújo, economista e professor de Economia da UFF, o principal fator que leva os aposentados a continuarem trabalhando é o valor recebido. “O baixo valor das aposentadorias faz com que o trabalhador encare o dinheiro como uma complementação de renda, então ele se aposenta e continua trabalhando para dispor de uma renda adicional”.
Mesmo após a aposentadoria, segundo uma pesquisa sobre comportamento financeiro realizada pelo Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, 6 em cada 10 brasileiros aposentados sentem necessidade de complementar a renda. Os motivos são: o valor da aposentadoria é insuficiente para ter uma condição digna de sustento para sua família ou, mesmo tendo uma aposentadoria satisfatória, a pessoa pode ser afetada com essa quebra de rotina após tanto tempo de trabalho.
Segundo o IBGE, pessoas idosas são as maiores afetadas pela depressão. A pesquisa, divulgada em 2019, apontou que o transtorno atinge 13% da população entre 60 e 64 anos. As causas, em pessoas da terceira idade, são principalmente a solidão, assim como o sentimento de inutilidade e inércia, que afeta muitos dos idosos que se aposentaram e não exercem mais atividades laborais. Nesse momento, o trabalho entra como uma ferramenta para a manutenção das interações sociais do idoso e também da autoestima, do senso de propósito.
O aposentado, mesmo que tenha uma certa idade, ainda é considerado ativo e produtivo, podendo ser um espelho para os mais jovens e ainda uma força de trabalho enquanto tiver saúde. Portanto, uma pessoa idosa pode trabalhar, ensinando os colegas mais novos, passando-lhes o conhecimento adquirido ao longo dos anos trabalhados. Para o idoso, isso é uma troca na qual ele se sente valorizado, melhora sua autoestima por sentir que ainda é útil e vir a ser um modelo ou uma inspiração para os colegas de trabalho que estão iniciando.
* Luiz Eduardo Brandão Biajotto, estudante de Jornalismo, cursando o terceiro ano, 42 anos, entusiasta de astronomia, um pouco nerd, eclético em relação à música (do sertanejo raiz à música clássica), curte filmes de comédia, suspense, sci fi, aventura, mas tem receio de assistir filmes de terror.