Nilson Xavier é escritor, crítico, pesquisador e colunista de televisão e fala um pouco sobre o cenário contemporâneo da teledramaturgia.
Autor: Reginaldo Calegari*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
A revolução tecnológica está redefinindo os hábitos de consumo de mídia, especialmente entre os jovens. Com mais de 21,1 milhões de brasileiros na faixa etária de 15 a 29 anos, segundo o último censo do IBGE, essa geração, profundamente conectada ao universo digital, está moldando o futuro do entretenimento. As novelas brasileiras, que historicamente ocupam um lugar de destaque na cultura popular e influenciam amplamente a audiência, enfrentam desafios sem precedentes. A ascensão das plataformas de streaming e do consumo sob demanda questiona o modelo tradicional de exibição.
Dados da empresa PYMNTS revelam que 54% da geração Z está plenamente empregada e ávida por consumir novos conteúdos. Nesse contexto, as redes sociais e plataformas digitais não apenas servem como canais de comunicação, mas também como arenas de engajamento, onde jovens interagem com tramas e personagens de formas inovadoras.
Esse cenário força roteiristas e produtores a repensar suas abordagens criativas, incorporando novas narrativas e formatos que possam impactar um público mais conectado. Assim, as emissoras buscam estratégias para manter a relevância das novelas em meio à crescente concorrência dos conteúdos digitais, numa luta para capturar a atenção de uma audiência em constante transformação.
Em entrevista, Nilson Xavier, especialista em novelas e autor do site Teledramaturgia, conta a sua visão sobre essas mudanças.
Revista Vozes: Como você descreveria a relação da nova geração de telespectadores com as novelas tradicionais?
Nilson Xavier: Acredito que se não for pela incidência de algum fator externo (influência de familiares ou amigos), a nova geração nem tome conhecimento das telenovelas da TV aberta (exibidas na grade fixa). Na realidade, nenhuma relação com a TV aberta em geral.
Quais são os principais fatores que têm influenciado a mudança de hábitos de consumo de mídia entre os jovens?
A possibilidade de ter ao alcance da mão (em tablets, smartphones, etc) toda sorte de programação audiovisual a ser consumida à hora que quiser, da forma que quiser.
Na sua opinião, como as plataformas de streaming têm impactado a audiência das novelas na televisão aberta?
Apesar do crescente número de acessos ao streaming (audiência), a TV aberta ainda tem influência e importância, já que serve à maior parcela da população brasileira. Porém, certamente houve uma queda muito brusca nos últimos 15 anos e a tendência será de aumentar exponencialmente.
Você acredita que a forma como as novelas são produzidas está se adaptando às novas preferências de consumo dos jovens? Se sim, de que maneira?
Existe produção de novelas para todos os públicos. Por um bom tempo ainda, o público “tradicional” (que consome telenovela na TV aberta) ainda ditará as regras. Ao mesmo tempo, há o mercado de novelas mais curtas, no streaming, com perfil para atender os anseios da nova geração.
Quais elementos narrativos ou estéticos você acha que atraem mais a nova geração para as novelas?
Essa eu fico devendo, porque não estou atualizado com o que o público mais jovem acompanha. Acredito que esse público prefira doramas, k-dramas, novelas voltadas para eles, e mais curtas.
Como as emissoras de televisão estão respondendo à concorrência das plataformas digitais em termos de conteúdo de novelas?
Estão correndo atrás, produzindo também para plataformas digitais.
Quais desafios as novelas tradicionais enfrentam para manter a relevância entre o público mais jovem?
O movimento que vejo em direção ao público mais jovem está no streaming. As novelas continuarão sendo feitas como sempre foram, com as mesmas premissas narrativas e estéticas a atender um público amplo: o da TV aberta. Tanto é assim que nem existe mais a Malhação, um programa no formato telenovela que era direcionado ao público jovem.
*Graduado em Sistemas de Informação pela Unifami, e em Letras pela Unifran. Pós-graduação em Gerência de Projetos de T.I. pelo INPG, e em Tecnologia na Educação pela Unifran. Graduando em Jornalismo pela Unicesumar, e Administração pela Univesp. Experiência com Redação para mídia online há 7 anos.
