Procedimento se destaca como o método mais eficaz e recomendado para controlar a população de animais abandonados.
Autor: Cleiton da Luz
Editora: Prof. Larissa Bezerra
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, cerca de 30 milhões de animais viviam em situação de rua só no Brasil. Esse número se dá, pincipalmente, por causa de abandonos por parte de tutores. Sem um lar esses animais passam a sofrer as duras realidades das ruas e a se reproduzirem de maneira descontrolada.
Em Inácio Martins, centro-sul do Paraná, a ONG São Francisco trabalha no apoio aos animais nessa situação. A organização realiza resgates, fornece cuidados e promove a adoção desses animais.
O presidente da ONG, Luiz Alberto Nunes de Oliveira, mais conhecido como Betinho, explica que a maioria dos resgates é feita a partir de relatos recebidos pelas redes sociais. Da mesma forma, as doações ocorrem através de contatos nas redes. Pessoas interessadas procuram a ONG ou a própria organização publica informações sobre animais disponíveis para adoção.
Betinho contou que seu desejo de ajudar surgiu quando se deparou com um animal abandonado e o alimentou. “Hoje eu alimento e amanhã, o que eu faço? As ações foram indo e virou vício”, diz. Hoje ele concilia o trabalho em sua auto elétrica com o de voluntário na ONG São Francisco. Ele destaca os desafios enfrentados pela instituição, especialmente a falta de recursos financeiros para custear o processo de castração, procedimento crucial para o controle populacional de animais em situação de rua.

Apoio do Poder Público
Betinho diz que uma conquista fundamental para a ONG, em 2023, foi um programa municipal de castração, no qual foi possível realizar 200 procedimentos totalmente gratuitos. A maioria foi destinada a animais em situação de vulnerabilidade, enquanto o restante atendeu tutores que não podiam arcar com os custos. Segundo o voluntário, mais 200 procedimentos estão previstos para 2024. No entanto, ele ressalta que os animais castrados que não encontram um novo lar acabam sendo devolvidos às ruas após a recuperação, já que a ONG não possui um local para mantê-los nem recursos financeiros.
Benefícios da Castração
O cuidado, a vacinação em dia e a castração ajudam esses animais a terem mais qualidade de vida, além de melhorar a convivência com os tutores. O médico veterinário Daniel Brandalise explica os diversos benefícios do procedimento: aumento da expectativa de vida, prevenção de câncer nas mamas e útero (nas fêmeas) e próstata (nos machos), diminuição dos riscos de fugas para acasalamento, prevenção de doenças como raiva e leishmaniose, redução da demarcação de território com urina e de comportamentos sexuais indesejados.
Brandalise também enfatiza a necessidade de um acompanhamento responsável no pós-cirúrgico. “O paciente deve ficar em um local tranquilo sem acesso a escadas ou objetos que possam causar acidentes. O repouso absoluto é recomendado por pelo menos 7 dias”, recomenda o profisisonal. Segundo o veterinário, é importante evitar o contato com outros animais durante o período de recuperação para evitar a importunação do animal em recuperação.
Ele ainda destaca a importância de seguir as orientações do veterinário quanto à alimentação e higiene do local da cirurgia. “Os animais não podem ter acesso ao local da cirurgia para não estourar ou contaminar os pontos com a lambedura. Medicamentos para controle da dor e inflamação devem ser administrados conforme indicado pelo veterinário.”
Daniel Brandalise ressalta que a castração é o principal método para o controle populacional. “Não existe outro tratamento eficaz capaz de controlar a população de animais em situação de rua. O tratamento padrão é a castração, tanto para machos quanto para fêmeas.”
Adoção também é uma saída
A auxiliar de saúde bucal e estudante do curso de farmácia, Fernanda Klems, relata que, ao saber de uma cachorra filhote abandonada perto de uma rodovia da cidade de Inácio Martins, ela e duas amigas decidiram resgatar o animal, que corria o risco de ser atropelado.
Fernanda lembra dos momentos em que executaram o resgate e da cena que viram ao chegar ao local. “A mãe dela tinha acabado de ser atropelada por um caminhão, e a Melissa (nome dado ao animal resgatado) estava indo até a mãe dela quando resgatei”, conta.
Segundo Klems foi um momento de muita emoção tanto pelo resgate, quanto pela cena que ela e as amigas presenciaram. “Na hora que eu peguei ela no colo, eu só sabia chorar, pela maldade do ser humano em fazer aquilo. Eu não pensei na hora se eu teria condições de criar ela, se eu teria tempo de cuidar dela, eu não pensei em nada, só trouxe pra casa. No outro dia, ela já estava bem esperta, correndo e brincando, comendo super bem.”
Melissa virou o xodó da jovem, e ela compartilha esses momentos nas redes sociais. Além de Melissa, Fernanda é tutora de outros quatro cachorros. Ela destaca que os outros animais “fizeram amizade” com Melissa e que a nova integrante da família é super dócil e amorosa, além de ser sua companheira.

No Brasil, o abandono de animais é crime que pode levar a reclusão de dois a cinco anos, além de multa.