Apesar disso, o Censo Agropecuário realizado em 2017 pelo IBGE mostra que apenas 19% dos negócios do setor contam com participação feminina.
Autora: Jandira dos Santos*
Editora: Prof. Larissa Bezerra
O trabalho é essencial na vida humana, permitindo a transformação da natureza para satisfazer interesses sociais. A modernização por meio da tecnologia e da mecanização da agricultura é evidente na sociedade, mas isso também traz pontos negativos. Está cada vez mais difícil encontrar um trabalho formal. Muitos até desistem de procurar emprego e se direcionam para a informalidade.
Com o fortalecimento do agronegócio com o fomento ao capitalismo agroindustrial, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, o PIB do agronegócio brasileiro alcançou R$ 1,35 trilhão no primeiro semestre de 2023, ante R$ 1,16 trilhão no mesmo período de 2022. Desta forma, muitos trabalhadores rurais não conseguem visualizar seu potencial frente ao novo modelo. Contudo, desenvolvendo capacidade crítica frente aos órgãos governamentais, esse público pode garantir sustento através da promoção de práticas empreendedoras financiadas por políticas públicas e, portanto, ter a chance de tornar a agricultura familiar atrativa como modo de renda.
Sobre a participação da mulher na agricultura familiar a Secretaria Geral de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras da Agricultura Familiar – SINTRAF localizado em Alagoinhas-Bahia, Edilma Oliveira disse que falar sobre a presença de mulheres na agricultura familiar é de suma importância, pois são elas que executam maior parte do processo do cultivo da terra. Contudo, precisamos de mais políticas públicas voltadas para as mulheres do campo, para incentivar a permanecer e produzir alimentos de qualidade para a população.
“A maior dificuldade para os escoamentos dos produtos dos agricultores é onde eles irão comercializar o mesmo. Transporte e estradas também são um dos empecilhos do escoamento da produção”, afirma Edilma. Ela ressalta a importância das agricultoras serem sindicalizadas também. “O sindicato da agricultura familiar é responsável pela luta dos direitos do segurado desse setor econômico”.

Na Comunidade Rural do Papagaio I, uma agricultora familiar que não quis se identificar, argumenta que é necessário que a mulher obtenha reconhecimento do seu trabalho em sua cidade e região, e para isso é importante participar das associações e reivindicar políticas públicas junto aos políticos da cidade. “Não adianta falar mal do prefeito se a gente não consegue se mobilizar e cobrar nossos direitos, vamos à luta”, afirma a agricultora.
Segundo o Censo Agropecuário realizado em 2017 pelo IBGE a participação das mulheres na agricultura familiar é baixo, visto que apenas 946.075 estabelecimentos agropecuários tem a participação feminina (19%) contra 4.110.450 estabelecimentos agropecuários com a participação masculina, cerca de 81%.

A Confederação Nacional dos Municípios exige que pelo menos 30% dos recursos financeiros do FNDE devem ser aplicados na compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar e nesse momento, é importante falar da lei 14.660/2023 que inclui os grupos formais e informais de mulheres aos grupos prioritários das compras da agricultura familiar. Fica evidente a necessidade de políticas públicas para fortalecer o protagonismo da mulher na agricultura e com isso, garantir a sua inserção na cadeia produtiva do agronegócio, conforme Edilma Oliveira.
Além disso, na Comunidade Rural do Papagaio I, diversas pessoas não concluíram o ensino fundamental II, abandonando por questões familiares e sociais e outros que até mesmo não iniciaram os estudos. A Educação no Campo e do Campo são instrumentos importantes a serem discutidos entre o poder público local no que se refere à formação de pessoas conscientes de seus direitos e com capacidade de articulação local em prol de suas necessidades econômicas, sociais e cidadãs.
* Jandira Dantas dos Santos é Licenciada em Geografia e Estudante de Jornalismo pela Unicesumar.