Síndrome de Burnout pode afetar vida do trabalhador

Psicopatologia desenvolvida no ambiente de trabalho gera desgaste emocional e outros problemas.

Autora: Jandira dos Santos*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

Analisar a sociedade pelo prisma marxista da relação homem-trabalho é uma forma de levar em conta como o sofrimento mental, que pode ser causado no trabalho, surge a partir de exigências imputadas aos trabalhadores em suas atividades diárias.

As exigências do trabalho e da vida social podem ser uma ameaça e geram riscos de desgaste emocional. Assim, a Síndrome de Burnout, também conhecida por Síndrome do Esgotamento Profissional aumentou em 114% o afastamento do trabalho desde 2019, segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

O estresse negativo vem afetando um número crescente de trabalhadores, causando sofrimento físico e mental e produzindo modificações estruturais e químicas no organismo, muitas vezes causadas pelas reações do corpo se defendendo contra o agente estressor.

O termo Burnout é de origem inglesa e significa queimar por completo. Este termo é utilizado como metáfora para referir-se aos indivíduos que chegam ao seu limite com uma reação tensional crônica que atinge o físico, social e psicológico, afetando a qualidade de vida.

Diagnóstico
O Burnout é mais comum em pessoas com autoestima baixa, níveis de resistência baixos e que lidam com situações estressantes de forma passiva e defensiva. O diagnóstico é feito por profissionais da psicologia ou psiquiatria, utilizando métodos como a observação, entrevistas e relatos das pessoas mais próximas a este indivíduo.

Conforme a psicóloga Edilaine Santos Silva, não é tão difícil identificar quando uma pessoa está com Síndrome de Burnout, apesar de que, com as mudanças sociais, a exaustão e o cansaço passaram a ser algo “comum”. Porém, uma pessoa cansada dorme e consegue descansar, diferentemente da Síndrome Burnout, em que os sintomas são contínuos. A pessoa pode sentir: exaustão, tensão, estresse, dificuldades para dormir, dores musculares, fadiga, dores abdominais, dores de cabeça, pressão alta, cansaço exacerbado, sentimento de impotência e dificuldade nas atividades laborais.

Edilaine diz que o tratamento depende do estado em que a pessoa se encontra, mas entre os possíveis tratamentos podem estar a psicoterapia e até mesmo intervenções medicamentosas com ansiolíticos e antidepressivos. Ainda de acordo com a psicóloga, considerando o atual mundo do trabalho e o contexto das organizações, “a saúde mental é mais importante que uma conta bancária”.

É importante pensar que empresas falham em seus projetos e, quando um colaborador adoece, também é uma falha organizacional. Tudo começa com a falta de cuidado entre as relações de poder e o olhar não humanizado. Nesse momento, o trabalhador fica esgotado e suscetível ao desenvolvimento dessa psicopatologia.

No setor público há o Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest), unidade do SUS que presta atendimento especializado em saúde do trabalhador. O Cerest também é responsável pelo apoio institucional, técnico e pedagógico no território de sua abrangência.

A coordenadora do Cerest e assistente social, Cristiane Correia, é responsável pelo território do Litoral Norte e Agreste Baiano que abrange 18 municípios. Ela pontuou que cada município possui uma referência técnica em saúde do trabalhador que encaminha indivíduos para atendimento. O Cerest atende trabalhadores formais e informais com suspeita e/ou diagnóstico de doenças relacionadas ao trabalho.

Cristiane diz que, em 2023, a maior parte dos atendimentos na instituição é de pessoas do sexo feminino cujas ocupações são nas áreas da saúde e educação. Segundo ela, em anos anteriores também tiveram atendimentos consideráveis de trabalhadores das indústrias de cervejaria, bancos e comércio.

A psicóloga do Cerest Steleyjanes Galdino disse que, como todo serviço do Sistema Único de Saúde (SUS), há protocolos a serem seguidos. Quando o trabalhador ou trabalhadora procura atendimento ou é encaminhado para lá, o indivíduo é recebido pelos profissionais e passa por escuta. “Importante ressaltar que no Cerest não é realizado atendimento terapêutico, é o acolhimento, avaliação do nexo causal e havendo necessidade de acompanhamento individual clínico, caso o trabalhador ainda não esteja fazendo, existe o encaminhamento para os serviços da rede”, destacou a psicóloga.

Joana – nome fictício para uma professora da rede privada do ensino fundamental II, que não quis se identificar – foi diagnosticada com a Síndrome de Burnout em 2021. Ela só se deu conta da psicopatologia quando, toda segunda-feira, para ir ao trabalho, estava com cefaleia e desconforto intestinal e ao retornar para casa os sintomas não existiam mais. Procurou atendimento médico e foi encaminhada a um psiquiatra.

Segundo a professora, foi um período muito triste. Tanta dedicação ao trabalho e pouco reconhecimento foram minando aos poucos o interesse pela profissão. Após seis meses de afastamento, retornou ao trabalho, mas precisou ser recolocada em outra função na secretaria da escola.

Prevenção
De acordo com Steleyjanes, quando se fala em saúde mental e prevenção, muitas pessoas pensam imediatamente em terapia, mas não é a única ação necessária. É um conjunto de ações que possibilitam que o trabalhador tenha um ambiente mais harmonioso. Após a pandemia da Covid-19 ficou mais evidente o quanto a saúde mental impacta diretamente no ambiente de trabalho, desde a produtividade até a alta rotatividade de colaboradores. Um dos principais aspectos que uma empresa pode investir é melhorar o canal de comunicação. Falhas na comunicação fazem com que surjam inseguranças, mal-estar, dúvidas. Ter um diálogo aberto para que os colaboradores possam expor suas opiniões e dar sugestões é uma ação importante.

Para prevenir a Síndrome de Burnout se faz necessário por parte das instituições estimular a autonomia dos indivíduos, rever as questões relacionadas à sobrecarga de trabalho, ter uma política de segurança, valorização profissional, investimento na formação dos profissionais, entre outros. Até mesmo práticas mais simples, como a ginástica laboral, pode promover o relaxamento e ser um auxílio, como sugere Steleyjanes.

Para a psicóloga Edilaine Silva, cada indivíduo também pode tomar algumas atitudes para prevenir a Síndrome de Burnout, como: repensar sobre as relações de trabalho; conhecer os seus limites; saber dizer não quando for necessário; praticar atividades físicas; conhecer bem a função dentro do ambiente laboral para não ter sobrecarga de trabalho; ter um sono regulado; e, por fim, saber a hora certa de mudar, tendo coragem para assumir novos desafios.

*Jandira Dantas dos Santos é psicóloga e estudante de Jornalismo na Unicesumar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *