Profissionais da comunicação enxergam ChatGPT como ferramenta importante, se usada da forma correta

Apesar de não ser uma opinião unânime, para muitos, esse recurso tem grande potencial.

Autor: Reginaldo Calegari*
Editora: Prof. Larissa Bezerra

A inteligência artificial (IA) é um campo interdisciplinar que se dedica ao desenvolvimento de sistemas e algoritmos capazes de realizar tarefas que normalmente requerem a inteligência humana. Nesse sentido, a IA busca criar agentes autônomos que possam perceber, raciocinar, aprender e tomar decisões com base em dados e experiências anteriores.

Essa capacidade de aprender com dados e melhorar o desempenho ao longo do tempo é fundamental para a aplicação da inteligência artificial em uma ampla gama de áreas, como saúde, transporte, finanças e muitas outras.

O ChatGPT – modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI, um laboratório de pesquisa de inteligência artificial do Estados Unidos – é baseado na arquitetura GPT-3.5, nova versão da IA que gera textos como se fosse um humano. Lançado em 2020, a ferramenta de inteligência artificial é projetada para processar e gerar texto em linguagem natural. A principal função é interagir com os usuários, fornecendo informações, respondendo a perguntas e ajudando com diferentes tipos de tarefas. Por anos, foi desenvolvido com base em uma ampla variedade de dados textuais, o que permite ter conhecimento em diversos domínios, como ciência, história, cultura, tecnologia, entre outros.

 Conforme a própria desenvolvedora, houve, inclusive um treinamento de seu código fonte e base de dados, baseados em uma grande quantidade de texto coletado da internet, incluindo livros, artigos e sites. Essa extensa exposição à linguagem permite entender diferentes tópicos e estilos de escrita.

No entanto, é um programa de computador e não possui consciência nem sentimentos. Embora possa processar e gerar texto com base em padrões e informações aprendidas, não possui experiência pessoal ou compreensão real do mundo, além do que foi apresentado nos dados de treinamento.

Diante de algumas limitações, por qual motivo o ChatGPT tem preocupado tantos profissionais?

As principais funções do ChatGPT
O GPT tem sido amplamente utilizado em diversas áreas ao redor do mundo. Na área de pesquisa, é usado para gerar hipóteses, analisar grandes conjuntos de dados e auxiliar na descoberta de novos conhecimentos. No campo da assistência virtual, empresas têm implementado para criar chatbots e assistentes virtuais mais avançados.

Em tarefas de resumo de texto, o GPT é empregado para analisar e condensar grandes quantidades de informações em resumos concisos. No campo da educação, é utilizado para criar recursos de aprendizagem interativos e personalizados.

Nas finanças, o GPT auxilia na análise de dados de mercado, previsões econômicas e na criação de relatórios financeiros automatizados.

O GPT também é usado na criação de conteúdo, como na redação automática de artigos, resumos de texto e até mesmo roteiros e organização de textos jornalísticos. Essas utilidades estão entre as maiores preocupações para alguns profissionais, entre eles, editores e jornalistas.

ChatGPT em números
De acordo com uma pesquisa recente, realizada pela empresa Semrush, a página do ChatGPT registrou um total de 863 milhões de acessos em todo o mundo, o que representa um aumento de mais de 40.000% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento significativo é atribuído à explosão de informações e à crescente popularidade da inteligência artificial em uma variedade de setores.

O Brasil, por sua vez, ocupa a quinta posição entre os países com maior tráfego no site da OpenAI em janeiro deste ano. As cinco primeiras nações com maior uso naplataforma são: Estados Unidos (19,5%), Alemanha (5,9%), França (5,7%), Índia (4,7%) e Brasil (4,3%).

Apesar do entusiasmo em relação às oportunidades que a inteligência artificial (IA) pode oferecer, os dados revelam que também há um sentimento de temor entre os profissionais em relação às suas atividades. Ainda conforme o levantamento da Semrush, isso é evidenciado pelo aumento de mais de 1.000% nas pesquisas, no próprio ChatGPT, por “quais empregos a IA substituirá” ao longo do ano.

O que os profissionais da área do jornalismo dizem sobre o assunto
O ensino é o pilar para a formação de novos profissionais, e essa base também pode ser atingida pela plataforma. O professor Leandro Brasil, concursado pela rede municipal de ensino de Santa Cruz das Palmeiras, interior de São Paulo, comenta que tem ciência de que o GPT está sendo usado para pesquisa e trabalhos acadêmicos, ressaltando que a utilização é um alerta. Ele acredita que isso pode representar um perigo, caso o uso atrapalhe a aplicação dos conhecimentos adquiridos. Entretanto, menciona que a plataforma pode ser usada como uma ferramenta de pesquisa e apoio, pois a praticidade permite respostas mais rápidas, mas não deve ser a única ferramenta para a realização de uma atividade acadêmica.

Questionado sobre o impacto do GPT e uma possível perda de qualidade, Leandro respondeu que, se não usado da forma correta, a ferramenta mais atrapalha do que ajuda, pois a qualidade da pesquisa é perdida, deixando de ser um esforço pessoal do aluno. “Como ferramenta de apoio o GPT é um excelente recurso que pode contribuir muito para o enriquecimento do trabalho. Mas sua função deve acabar aí. O estudante não pode também confiar apenas no GPT, é necessário pesquisar também em outras fontes, consultar autores renomados, comparar as informações recolhidas de todas as fontes, saber filtrar e utilizar as informações mais relevantes naquele contexto sobre o qual a pesquisa é feita”, conclui o professor.

Mayra Michel, que atua no jornalismo e é sócia da plataforma I7Network, entende como funciona a ferramenta, e já a utilizou em algumas ocasiões.

A profissional não acredita que o ChatGPT ameace o trabalho dos jornalistas. “Assim como a TV não acabou com o rádio ou as redes sociais não acabaram com os sites de notícias, sigo confiando que novas tecnologias somam ao trabalho de um bom jornalista”, disse. Ainda reforça que um bom faro jornalístico, apuração, atenção aos detalhes, e buscar ouvir os lados de uma história, são atribuições somente da mente humana.

A jornalista apontou que a ferramenta pode ajudar em revisão de conteúdo, alegando sobre o cérebro humano ter o costume de “se enganar”, quando um escritor não consegue ver seu próprio erro. Entretanto, as preocupações sobre o uso da ferramenta são a distorção de citações, inclusão de lições de moral em meio ao texto, e emissão de opiniões de senso comum. Para a profissional, a escrita de uma I.A. precisa de uma revisão jornalística.

Quanto ao impacto em disseminação de informações falsas, Mayra destacou que a plataforma tem o poder multiplicador, podendo elaborar diversos textos originais, baseados somente em informação falsa. Porém, a jornalista acredita que toda ferramenta, quando usada da forma correta, é bem-vinda, e ignorar a tecnologia e as mudanças na sociedade significam que o profissional pode se tornar obsoleto.

Nellysson Caixeta, CFO na empresa I7Network, também está familiarizado com o uso do GPT. Ele aponta que não há como negar que a I.A. pode impactar o mercado de trabalho, não só no jornalismo. Contudo, considerando esse nicho, menciona que há tarefas que dependem da habilidade humana, pois é um setor que trabalha com eventos complexos. O ato de apurar, entrevistar e contextualizar são, ao menos por enquanto, capacidades do ser humano, além da importância em manter a ética e o padrão jornalístico.

No jornalismo, Caixeta afirma que os principais benefícios no uso da ferramenta são a automação de tarefas básicas, permitindo que um conteúdo seja produzido mais rapidamente, como tradução, correção, pesquisas, detecção de erros gramaticais ou de coesão textual e, até mesmo, na sugestão de ideias para pautas. Entretanto há algumas preocupações, como a substituição de profissionais que desempenham tarefas secundárias. Sendo assim, reforça que é importante o aprendizado contínuo, uma vez que profissionais mais capacitados poderão sofrer menos com o avanço tecnológico.

O CFO disse que não é contra o uso da I.A., como aliada do jornalista, pois tem a capacidade de melhorar a eficiência do profissional, pontuando ainda que a aprimoração da linguagem pode trazer ainda mais benefícios.

Por fim, o entrevistado resume que há ganhos e perdas, onde ganha o jornalista que acompanha o avanço, assim como o leitor que terá conteúdos mais completos. As perdas ficam para aqueles que enxergam a tecnologia como uma inimiga. “O segredo está em abraçar as mudanças, buscar qualificações complementares, adaptar-se e continuar aprendendo ao longo do tempo”, finaliza.

*Graduado em Sistemas de Informação pela Unifami, e em Letras pela Unifran. Pós-graduação em Gerência de Projetos de T.I. pelo INPG, e em Tecnologia na Educação pela Unifran. Graduando em Jornalismo pela Unicesumar, e Administração pela Univesp. Experiência com Redação para mídia online há 7 anos.

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